Uma linda homenagem aos nossos Caboclos. Meus Parabens!!!
A idéia com esse post é falarmos de Caboclos e que todos
participem com informações e nos ajudem a formar um entendimento coeso,
independente, sério.
Os Caboclos de Pena são genuinamente brasileiros, os
verdadeiros donos dessa terra chamada Brasil. Relendo um livro sobre cantigas
de Umbanda e candomblé, me dei conta de como é rica a liturgia aos caboclos em
geral, a miscigenação cultural/litúrgica/culto entre o Indio, Negro e o
Branco. Seus espíritos e rituais estão espalhados em várias nações do
candomblé, fortemente na Umbanda e até de cultos próprios pois não dependem de
ninguém.
Os Caboclos se dividem em diversas nações: Aimorés, Tupis,
Tamoios, Guaranís, etc. Cada uma caracterizada por uma combinação de cores em geral. Interessante
são as legiões de Caboclos oriundos de várias linhas e cada linha é constituída
de sete legiões, cada uma com seu chefe. A linhas de Xangô que inclui as
legiões de: Iansã, caboclo Cachoeira, Pedra Branca, Caboclo do Sol, da Lua,
Treme-Terra e caboclo do Vento. Na limha de Oxóssi estão as legiões de:
Araribóia, Guaranís (chefiada por Araúna) Cabocla Jurema, cabocla das Sete
encruzilhadas, Pele vermelhas (chefiada por Águia Branca, Tamaios e Urubatão. A
linha de Ogun inclui as legiões de: Ogun Beira Mar (praias), Ogun Delei (linha
de Malei da Quimbanda) Ogun Iára (rios), Ogun Matinata (campos), Ogun Megê (
linha das almas na Umbanda), Ogun Naruê (linha das almas Quimbanda), e Ogun
Rompe-Mato (matas). Na linha de Yemanjá estão as legiões de: cabocla Iansã
(chuvas/raios) , cabocla Iára (rios/mares), cabocla Indaiá (lagos), Cabocla
Janaína (mar), cabocla Nanã (fontes), cabocla Oxun (cachoeiras), e Sereia
(mar). Existem ainda uma infinidades de caboclos ligados a essas linhas,
falangeiros da Jurema, capanguinhas, etc
Os Caboclos conhecem todos os segredos das forças da natureza, por
isso sabem como descarregar um ambiente cheio de energias negativas, nocivas e
como curar uma pessoa atingida por males físicos ou espirituais, usando as
energias benéficas que nos cercam e o seu próprio poder esperitual.
Os Caboclos começaram a se manifestar nos candomblés de caboclo e
nas mesas de Jurema do Catimbó, mais tarde tornaram-se um dos mais importantes
grupos de de entidades da Umbanda. Em uma sessão de Umbanda, os Caboclos
atendem aos fiéis fazendo passes e defumações, além de ensinar os remédios e
dar os conselhos adequados a cada caso.
Por ser genuinamente brasileiro, os pontos são cantandos e
compostos em portugues, daí a participação cultural do Branco. Há um
ponto que ratifica sua condição de sobrerano:
"Brasileiro, brasileiro (bis)
sou brasileiro Imperador, mais eu sou filho do Brasil!
se meu pai é brasileiro, minha mãe é brasileira
brasileiro o que é que eu sou?
sou brasileiro Imperador!"
Iyá Gisèle Omindarewá, em seu livro "Awô o mistério dos
Orixás", faz uma pequena e excelente aluzão aos Caboclos e seus
ritos: Os caboclos possuem características muito diferentes
dos Orixás, e não passam por um aprendizado definido. Eles se comportam de
maneira mais violenta e primitiva, e o estado de transe é muito agitado. Como
sua conduta não está rigorosamente codificada, é posspível que ajam de modo
bastante imprevisível...As suas personalidades refletem fielmente a imagem
tradicional do Índio do Brasil...Ao se observar certas cantigas percebem-se a
influência cultural do Negro e em especial do povo da costa de Angola, a
misceginação Índio/Negro em vários pontos:
"O Luandê, o Lunda, Luanda é terra de caboclo o
Luanda"
"Pedrinha miudinha da arunda ê, lagedo tão grande da
aruanda ê"
Muitas casas de candomblé cultuam caboclos, porém, não dão crédito
algum, fazem de portas fechadas, desconsiderando uma cultura brasileira
enraizada no nosso cotidiano. É difícil entender esse comportamento das nações
africanas e seus zeladores, afinal a terra é do Índio brasileiro, com seus
ritos, mistérios e soberania, tem que pedir licença (agô) para pisar na terra,
um alguidá com frutas, um cuité com vinho, um charuto acesso, tem até Orixá que
gosta. Okê Caboclo! É só um carinho com o sultão das Matas, no pé do juremeira.
Alguns pontos de caboclos mais conhecidos.
Cabocla Jandira
"Seu cocar é de pena branca
ela é quem segura a gira (bis)
Saravá sua linda banda,
Saravá a cabocla Jandira" (bis)
Cabocla Jurema
Minha senhora lá das matas,
me diga quem mada aí (bís)
Venha pra perto ver, Dona Jurema é do arirí (bis)
Caboclo Arranca Tôco
Oi saravá Seu Arranca Tôco,
saravá seu bambi Odé,
oi que bamba o clime,
Oi que bambi Odé (bis)
Caboclo Cobra Coral
"Todos caboclos quando vem da mata
trazem na sinta uma cobra coral (bis)
É do seu cobra coral
oi era uma cobra coral."
Caboclo Pena Branca
"Com sua flexa de ouro, com seu bodoque de prata,
Ele é seu Pena Branca, caninana não lhe mata".
Caboclo Pena Verde
"Ele veio da sua mata, veio saravá o gongá,
Suassuna é pena Verde, aqui em qualquer lugar".
Cabocla Jacira
"Na fonte da água cristalina,
uma bela cabocla se mira,
Dos cabelos correm pérolas doradas,
Tá na gira a cabocla Jacira".
Um outro segmento de caboclos, são os Caboclos Boiadeiros e suas
variantes, com a sua saudação: Xetro marrumbaxetro! Intruduzido dentro das casas de
Angola, dentro dos sambas nas rodas de caboclo(sambangola), eles vem na linda
da Jurema (relacionada ao catimbó) suas cantigas apresentam muitas referências
aos reinos míticos do mundo encantado do Juremal, como Aldeia Nova, Hungria,
Águas Claras, Lajedo, Jequiriçá, Junssara, etc). Exemplos:
Caboclo Boiadeiro
-" Lá na Hungria, lá na Hungria,
Lá na Hungria seu palácio é real,
Lá na Hungria, lá na Hungria,
Na Hungria Boiadeiro é real". (bis)
-"Lá na Vila Nova, Lá na Vila Nova,
Na Vila Nova do seu Boiadeiro,
Lá na Vila Nova" . (bis)
Ponto de chamada de seu Boiadeiro
"Seu Boiadeiro sou quem lhe chama
vem atender meu chamado,
seu Boiadeiro sou eu que quem lhe chama,
tu és meu advogado".
Ponto barravento
A minha boiada é de 31 (bis)
já contei trinta ainda me falta um."
Ponto de louvação final
-"Deus lhe salve essa casa santa (bis)
Aonde Deus fez sua morada.
Aonde mora o cálice bento.
E a hóstia consagrada"
Temos aí a nesse ponto a catequese católica, interessante que não
é sincretismo, é miscigenação cultural de sobrevivência e de amor aos
caboclos cultuados no Brasil.
Bibliografia e pesquisa: Eneida Gaspar do livro Cantigas de
Umbanda e candomblé. Awô o Mistério dos Orixás de Gisèle Omindarewá e acervo
cultural do Axé Osolufon-Íwìn.