segunda-feira, 7 de novembro de 2011

QUEM É E QUAL SUA FUNÇÃO DE UM BABALAWO

Gostaria de apresentar a conversação de dois Babalorixa quanto a função e o cargo de Babalawo, que no final chegam a um acordo ambos aceitando a posição um do outro, quanto esta figura tão incerta e não aceita pela maioria de Babalorixas que não procuram estudar as nossas raízes.

Da Ilha said on O Opelé e os Búzios não são jogo de Casino
July 13, 2011 at 2:29 pm
In response to Michelly de Castro on July 13, 2011 at 7:35 am:
Da Ilha e Fernando… ” Por mais afiada que seja a faca, ela não pode riscar seu próprio cabo ” Essa frase soa como uma sentença fatal, enfim, temos que optar. Ou fazer bem uma coisa ou outra, não é verdade? E eu que estudo tanto e não vou jogar opele nem ser babalawo, claro [...]
Michelly, prepare o ÓLEO DE PEROBA, VOCE PODE JOGAR OPELÈ IFÁ SIM. Dentro do Culto de Ifá, uma mulher pode se tornar uma Iyànifá, com todos os direitos de um Babalawo, existem algumas restrições, como manipular Ikins e na iniciação tem um ritual qvc não faz, mas isso é outra história. Minha casa inicia homens e mulheres no culto de Ifá, desde Isefá ( Primeira mão de ifá, o inicio do caminho onde é montado o igbá de Òrúmìlá), Iyànifá que já lhe falei e Babalawo. Portanto seus estudos e sua estrada não param nunca, é somente uma questão de querer e ser escolhido por Òrúnmìlá.
A frase a que vc se referiu não é como uma sentença, é uma parabola onde cada um tirará o ensinamento que encontrar. Eu vejo nesta frase o freio para as pessoas que querem ser Deus, as pessoas que querem abraçar o mundo e fazer tudo e cada um vai se encontrar nela.
Ire o.

Michelly de Castro said on O Opelé e os Búzios não são jogo de Casino
July 13, 2011 at 7:35 am
In response to Manuela on January 22, 2009 at 2:36 am:
Conseguir informação de Orunmilá sobre a vida de alguém, é importante demais para ser deixado a um simples deitar do Opelé, 16 búzios, cartas de tarot ou qualquer que seja o sistema de adivinhação utilizado. De acordo com o pensamento tradicional, qualquer pessoa com um Opelé e um livro dos Odús pode andar por aí [...]
Da Ilha e Fernando…
” Por mais afiada que seja a faca, ela não pode riscar seu próprio cabo ”
Essa frase soa como uma sentença fatal, enfim, temos que optar. Ou fazer bem uma coisa ou outra, não é verdade?
E eu que estudo tanto e não vou jogar opele nem ser babalawo, claro que eu não teria a cara de pau pra sair por aí dando consulta com opele…rs…
Porque mulher não pode?
heimm?

Fernando D'Osogiyan said on O Opelé e os Búzios não são jogo de Casino
July 12, 2011 at 7:46 pm
In response to Manuela on January 22, 2009 at 2:36 am:
Conseguir informação de Orunmilá sobre a vida de alguém, é importante demais para ser deixado a um simples deitar do Opelé, 16 búzios, cartas de tarot ou qualquer que seja o sistema de adivinhação utilizado. De acordo com o pensamento tradicional, qualquer pessoa com um Opelé e um livro dos Odús pode andar por aí [...]
Da Ilha,
Por isso que: “Por mais afiada que seja a faca, ela não pode riscar seu próprio cabo”
Particularmente não concordo, é muita coisa para a cabeça de uma pessoa, estudar durante anos à fio os 256 Odús, itans, parábolas, liturgias e toda aquela confraria que tem que dar satisfação, $, aos Ogbonis, ainda depois se iniciar para Orixá!Até chegar através de obrigações, odun ijê e receber a cuia ou deká de Babalorixá. Uma coisa ou outra, ou bem seja um excelente Oluwò ou um excelente Olorisá. No Ketu/Nagô o Babalorixá apura o Orixá, descobre sua raiz, identifica e qualifica, passam anos aprendendo a entender porque se enrola o acaçá na folha de bananeira para Oxalá já que esta folha é de Exú.
“Mãos perfeitas e escolhidas para cada função”
Mo juba axé.


Da Ilha said on O Opelé e os Búzios não são jogo de Casino
July 12, 2011 at 7:05 pm
In response to Fernando D'Osogiyan on July 12, 2011 at 6:16 pm:
Da Ilha, Bem sabemos que o advinho que manipulava o Ifá era denominado por Babalawo de: Babá (pai) + Li ( que tem) + àwo (segredo) era a autoridade máxima do sistema religioso Yorubá, principalmente em Ifé, onde existiam os Babalawos Àwoni com seus irukeres, Opá Orèrè e até usavam Ekudidé, esse liturgia só existiu [...]
Bàbá Fernando, correto, mas é bom informar aos nossos internautas que o cargo de Babalawo puro e simples, sem iniciação em òrìsá não lhe permite mexer na cabeça de niguém.
Basicamente um Bori onde se invoca o Odu e o adimu, (comidas para os òrìsás), pois tem gente por ai iniciada em Babalawo, não é sacerdote de òrìsá e quer fazer iniciação por pura ganancia.
Portanto, o Babalawo tem que ter duas familias, a de òrìsá e a de Ifá, se não tiver é errado querer atuar nas duas frentes.
Mo juba Olorisá.

Fernando D'Osogiyan said on O Opelé e os Búzios não são jogo de Casino
July 12, 2011 at 6:16 pm
In response to Manuela on January 22, 2009 at 2:36 am:
Conseguir informação de Orunmilá sobre a vida de alguém, é importante demais para ser deixado a um simples deitar do Opelé, 16 búzios, cartas de tarot ou qualquer que seja o sistema de adivinhação utilizado. De acordo com o pensamento tradicional, qualquer pessoa com um Opelé e um livro dos Odús pode andar por aí [...]
Da Ilha,
Bem sabemos que o advinho que manipulava o Ifá era denominado por Babalawo de: Babá (pai) + Li ( que tem) + àwo (segredo) era a autoridade máxima do sistema religioso Yorubá, principalmente em Ifé, onde existiam os Babalawos Àwoni com seus irukeres, Opá Orèrè e até usavam Ekudidé, esse liturgia só existiu em Ilê Ifé. (antes que algum babalawo comece a usar o Ekodidé)
Segundo Willian Bascon, …o Babalawo era uma autoridade religiosa que deve ter conhecimento acerca de todas as Divindades Yorubá e não meramente daquela que ele pessoalmente reverencia, funcionando para a massa de fiéis e também para os outros sacerdotes de divindades diferentes. Ele ajuda os fiéis a tratar com amplo espectro de forças personificadas ou impessoais em que os Yorubás acreditam e a consumar, através da Divinação Ifá, os destinos individuais que lhes forem consignados por escolha própria desde o nascimento.
” Obé Ti o mu ki gbé kuku ará ré”
“Por mais afiada que seja a faca, ela não pode riscar seu próprio cabo”
Mo Juba omo-Ifá.

Da Ilha said on O Opelé e os Búzios não são jogo de Casino
July 12, 2011 at 4:33 pm
In response to Manuela on January 22, 2009 at 2:36 am:
Conseguir informação de Orunmilá sobre a vida de alguém, é importante demais para ser deixado a um simples deitar do Opelé, 16 búzios, cartas de tarot ou qualquer que seja o sistema de adivinhação utilizado. De acordo com o pensamento tradicional, qualquer pessoa com um Opelé e um livro dos Odús pode andar por aí [...]
Bàbá Fernando, ago, complementando com minha opinião, qualquer Babalawo, Oluwo ou Arabá (posto mais alto no culto de Ifá), pode e deveria ser iniciado no culto de òrìsá, pois esta experiência lhe daria um foco mais apurado do que ele já tem e lhe credenciaria a ir um pouco mais longe ao mexer com òrìsá. Concordo que na verdade o correto é o Babalawo ver caminhos de Odu e fazer os ebós no neófito e depois o Olorisá (zelador) cuidar da iniciação do mesmo.
A mão esquerda não se limpa sem ajuda da direita. Ogbe-meji.
Mo juba Olorisá.
Ire o.

Fernando D'Osogiyan said on O Opelé e os Búzios não são jogo de Casino
July 12, 2011 at 4:20 pm
In response to Manuela on January 22, 2009 at 2:36 am:
Conseguir informação de Orunmilá sobre a vida de alguém, é importante demais para ser deixado a um simples deitar do Opelé, 16 búzios, cartas de tarot ou qualquer que seja o sistema de adivinhação utilizado. De acordo com o pensamento tradicional, qualquer pessoa com um Opelé e um livro dos Odús pode andar por aí [...]
Michelly,
Seu comentário é ótimo e concordo em genero, número e grau.
Babalawo também tem comunhão com Orisá, pode cantar pra ele, dançar pra ele, vestir o seu orisá.O que impede isso?
Apenas acrescento:
Nada impede que isso aconteça por que os Babalawos tem seus Babalorixás, assim como os Babalorixás tem seus Babalawos, ambos se completam.
Assim também é o culto a Egungun ou quando de um Axexe, quando Babalawos e Babalorixas precisam dos Alapinis e Ojês para os sacrifícios a Egungun e toda liturgia e os memos precisam de seus babalawos e babalorixás.
Mãos perfeitas e escolhidas para cada função.
“Porque nem tudo que se faz pode permancer escondido”. Máxima do Odú Ìwòrì Ogbé.
Axé.

sábado, 5 de novembro de 2011

GRANDES PERSONAGENS DO CANDOMBLÉ-PAI ADÃO




GRANDES NOMES DO CANDOMBLÉ – PAI ADÃO

Felipe Sabino da Costa - Pai Adão - (1877-1936), foi o quartobabalorixá do Terreiro Obá Ogunté também conhecido como Sitio de Pai Adão faz parte do Xango do Recife localizado em Recife,Pernambuco. Esse terreiro é a mais antiga casa de culto Nagô dePernambuco, fundado pela Tia Ignês Ifatinuké, africana, junto a grandes sacerdotes do culto nagô como Otolú Byioká, Zé Quirino, Silveirinha, Obarindê, Apary, Xangô Lary (tantos outros que não podem ser invisibilisados por suas contribuções históricas) foi tombado peloPatrimônio histórico de Pernambuco.
Conta-se ali no Sítio, que Tia Inês uma negra alforriada comprou aquele pedaço de terra para abrigar alguns necessitados e poder praticar o seu Culto Nagô, e para tanto fez construir uma pequena capela dedicada a Santa Ana e por detrás do altar cultuava os Orixás. Como também incentivou o pai de Felipe a irem a África e se aperfeiçoarem seus conhecimentos do Culto e também de lá trazerem alguns objetos e sementes de plantas sagradas como uma Gameleira branca (Iroco) ainda hoje esta no Sitio e assim Felipe quando assumiu o posto de Babalorixa deu uma personalidade totalmente diferente ao praticado nas outras casas da época, sendo que os babalorixas anteriores sempre foram de sua família, e hoje está nas mãos de seu neto, Manoel da Costa de Iemanjá Ogunté.

GRANDES PERSONAGENS DO CANDOMBLÉ - AGENOR MIRANDA



Agenor Miranda Rocha, o Pai Agenor, (Luanda, Angola, 8 de setembro de 1907 — Rio de Janeiro, 17 de julho de 2004) foi um babalaô da Religião dos Orixás Candomblé.
Foi iniciado na cidade do Rio de Janeiro, em tenra idade, para o orixá Euá (Iyewá) pelo africano Alagbedé e posteriormente, ainda na infância para Oxalá por Mãe Aninha,Iya Obá Biyi Iyalorixá fundadora dos terreiros Axé Opô Afonjá de Salvador e do Rio de Janeiro cujo primeiro endenreço era na chamada "Pedra do Sal". Hoje o Opô Afonjá do Rio se localiza em Coelho da Rocha.
O Professor Agenor, como era conhecido, foi professor catedrático aposentado do Colégio Pedro II, nas cadeiras de matemática e latim, cantor lírico (seguindo os passos de sua mãe, o soprano Zulmira Miranda e babalaô adivinho na referida tradição religiosa candomblé, um dos ocidentais mais conhecedores de a herança e a Cultura afro-brasileira, além de talvez uma das mais respeitadas personalidades religiosas por todas as lideranças de tradicionais terreiros do Brasil. Foi o jogo de búzios (meridilogun)do Prof. Agenor que decidiu a sucessão de importantes terreiros: Mãe Oké e Mãe Tatá, na Casa Branca do Engenho Velho; Mãe Stella, no Axé Opô Afonjá; Mãe Índia, no Terreiro do Bogun (o último grande jogo de sucessão antes do falecimento do professor). Agenor Miranda também foi poeta e musicista. Seu jogo de búzios foi um dos mais procurados do país. O velho professor foi orientador espiritual e conselheiro de personalidades de diferentes procedências religiosas e de muitos babalorixás, a exemplo do Babá Augusto César de Logunedé.
[editar]Documentário: um vento sagrado

Foi publicada no Jornal Diário de São Paulo a matéria O zelador dos orixás na tela, feita pelo jornalista Marcos Pinho - Um Vento Sagrado, do diretor e artista plástico baiano Walter Lima, o trabalho conta a história de Pai Agenor, um dos mais importantes nomes do candomblé no país. O trabalho de pesquisa consumiu mais de três anos de viagens, pesquisas e gravações no Rio de Janeiro] Salvador, São Paulo e Roma.
O filme (Brasil, 2001, 93 min.), mostra Pai Agenor em sua casa no Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro, onde figuram desde imagens de São Francisco e Buda até de Oxalá e outras divindades do candomblé. É no local que ele recebe visitantes em busca de aconselhamento e joga búzios.
Suas declarações são desconcertantes. “A força do candomblé está no sangue verde das plantas e não no sangue vermelho dos animais”, comenta para condenar os sacrifícios em cultos.
Professor aposentado, poeta, ensaísta, cantor de ópera e de fado, Pai Agenor é um homem múltiplo e incomum. “Ele é talvez a última das grandes figuras do candomblé”, afirma Gilberto Gil. O retrato pintado por Walter Lima é o de um ser de personalidade instigante cujas opiniões são sempre respeitadas. Até hoje ele é convocado para escolher a mãe-de-santo nos grandes terreiros baianos.
A fita mostra ainda o biografado sendo recebido pelo Papa em Roma e inclui poemas nas vozes de atores como Alessandra Negrini, Ingrid Guimarães e Camila Amado, além da narração de Othon Bastos.
Amante da música, talvez por influência de sua mãe, a fadista portuguesa Zulmira Miranda, cuja história está registrada na Casa do Fado e da guitarra portuguesa, Agenor fez uma incursão como cantor no mundo da música. Há alguns anos foram recuperadas algumas de suas antigas gravações e hoje circula nas mãos de seus amigos e admiradores cds onde ele canta fados, canções italianas e músicas clássicas.
Amante da poesia e teve dois livros publicados ainda em vida, "Poemas Infantis", em 1999, e "Oferenda - como a flor que se oculta entre as folhas", em 1998, pela Editora Sete Letras, traduzido na Espanha e editado pela Algorán Poesia, em 2001.
Seus poemas foram muito bem recebidos por serem, além de belos, expressão de um grande conhecimento também nesta arte. Tinha muitos amigos e admiradores, muitos alunos, e para todos estes deixou ainda o livro "Caderno de Português", em 2000, escrito logo após uma intervenção cirúrgica bastante séria.
Faleceu em 2004, vitimado principalmente pelo agravamento de um simples caso infeccioso, uma vez que não conseguiu ser tratado a tempo em condições necessárias. Deixou muitos amigos e filhos em todas as partes do Brasil e no exterior, todos saudosos e consternados, principalmente por não terem podido ajudá-lo e intervir para que pudesse completar com "saúde e paz", como gostava de dizer, os seus almejados 100 anos de existência, que será,lembrado e comemorado por toda parte, com devoção, no 8 de setembro de 2007.
Dentre as homenagens que recebeu está a Medalha Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro.
Sobre ele há uma primorosa biografia: "Um vento sagrado", editado pela Editora Mauad e de autoria de Muniz Sodré e Luis Filipe de Lima.
[editar]Livros

Caminhos de Odu, Pallas, 1999 - ISBN 853470273X
As Nações Kêtu, ISBN 8574780189
Desenredos, ISBN 857478060X
Biografia: Pai Agenor - Diógenes Rebouças Filho (Coleção Passagens da Memória, vol.1 / 1997)

GRANDES PERSONAGENS DO CANDOMBLÉ - MESTRE DIDI

Seu pai Arsenio dos Santos, pertencia à "elite" dos alfaiates da Bahia, mais tarde iria transferir-se para o Rio de Janeiro na época em que houve uma grande migração de baianos para a então capital do Brasil.
Sua mãe Maria Bibiana do Espírito Santo, mais conhecida como Mãe Senhora era descendente da tradicional família Asipa, originária de Oyo e Ketu, importantes cidades do império Yoruba. Sua trisavó, Sra. Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi uma das fundadoras da primeira casa de tradição nagô de candomblé na Bahia, o Ilê Ase Aira Intile, depois Ilê Iya Nassô. Sua esposa Juana Elbein dos Santos, é antropóloga e companheira em todas as suas viagens pelo exterior, aos países da África, Europa e Américas, de grande importância pelos intercâmbios e experiências adquiridas, e que irão contribuir significativamente para os desdobramentos institucionais de luta de afirmação da tradição afro-brasileira e pelo respeito aos direitos à alteridade e identidade própria. Sua filha Inaicyra Falcão dos Santos é cantora lírica, graduada em dança pela Universidade Federal da Bahia, professora doutora, pesquisadora das tradições africano-brasileiras, na educação e nas artes performáticas no Departamento de Artes Corporais da Unicamp.
[editar]Sacerdote

A igreja durante o período colonial e pós-colonial foi uma instituição de que a comunidade descendente de africanos inseriu em suas estratégias de luta pela alforria e re-agrupamento social. Didi foi batizado, fez primeira comunhão e foi coroinha. Mais tarde, já sacerdote da tradição afro-brasileira foi se dedicando inteiramente a ela afastando-se do catolicismo, embora respeitando-o como uma outra religião. Eugenia Ana dos Santos - Mãe Aninha, tratada por Didi como avó, foi quem o iniciou no culto aos Orixás e lhe deu o título de Assogba, Supremo Sacerdote do Culto de Obaluaiyê.
Arsenio Ferreira dos Santos era sobrinho de Marcos Theodoro Pimentel, o Alapini, primeiro mestre de Didi no Culto aos Egungun, os ancestrais masculinos, tradição originária de Oyo, capital do império Yoruba.
Depois de Marcos, foi Arsenio, conhecido por Paizinho quem deu continuidade a iniciação de Didi, que se confirmou Ojé com o título de Korikowe Olokotun. A herança de tio Marcos Alapini se constitui sobretudo pelo culto ao olori Egun, baba Olukotun, o mais antigo ancestral que foi trazido da África na ocasião da viagem que fez com seu pai, Marcos O Velho. Paizinho, então Alagbá, o mais antigo da tradição aos Egungun recebeu esta herança que aproximou à do terreiro Ilê Agboulá na Ilha de Itaparica.
A herança de Marcos Alapini, para seu sobrinho Arsenio Alagba passou para Didi, Ojé Korikowe Olukotun. Mais tarde Didi recebeu o título de Alapini, o mais alto do Culto aos Egungun, no Ilê Agboula e anos depois, em 1980 fundou o Ilê Asipa onde é cultuado o Baba Olukotun e demais Eguns desta tradição antiga.
Em setembro de 1970, não tendo no Brasil quem pudesse fazer sua confirmação de Balé Xangô, foi para Oyo e realiza a obrigação na cidade originária do culto à Xangô. A cerimônia foi realizada pelo Balé Sàngó e o Otun Balé do reino de Xangô de Oyo.
[editar]Artista

"Os Orixá do Panteão da Terra são os que nos alimentam e nos ajudam a manter a vida. Os meus trabalhos estão inspirados na natureza, na Mãe Terra-Lama, representada pela Orixá Nanã, patrona da agritultura". Mestre Didi
"Mestre Didi é um sacerdote-artista. Exprime, através da criação estética, uma arraigada intimidade com seu universo existencial, onde ancestralidade e visão de mundo africanos se fundem com sua experiência de vida baiana. Completamente integrado ao universo nagô de origem yorubana, revela em suas obras uma inspiração mítica, material. A linguagem nagô com a qual se expressa é o discurso sobre a experiência do sagrado, que se manifesta por meio de uma simbologia formal de caráter estético". Juana Elbein dos Santos
[editar]Obra

Yorubá tal Qual se Fala, Tipografia Moderna, Bahia, 1950
Contos Negros da Bahia, (Brasil) Edições GRD, Rio de Janeiro, 1961
História de Um Terreiro Nagô, 1.edição, Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, 1962, 2.edição, Editora Max Limonad, 1988
Contos de Nagô, Edições GRD, Rio de Janeiro, 1963
Porque Oxalá usa Ekodidé, Ed. Cavaleiro da Lua, 1966
Contos Crioulos da Bahia, Ed. Vozes, Petrópolis, 1976
Contos de Mestre Didi, Ed. Codecri, Rio de Janeiro, 1981
Xangô, el guerrero conquistador y otros cuentos de Bahia, SD. Ediciones Silva Diaz, Buenos Aires, Argentina, 1987
Contes noirs de Bahia, tradução francesa de Lyne Stone, Ed. Karthale, 1987
História da Criação do Mundo, Olinda, PE, 1988 - Ilustração Adão Pinheiro
Ancestralidade Africana no Brasil, Mestre Didi: 80 anos, organizado por Juana Elbein dos Santos, SECNEB, Salvador, Bahia, 1997, CD-ROM - Ancestralidade Africana no Brasil
Pluraridade Cultural e Educação
Nossos Ancestrais e o Terreiro
Democracia e Diversidade Humana: Desafio Contemporâneo

CANDOMBLÉ JEJE MAHI - GAIAKU LUIZA



Luiza Franquelina da Rocha nasceu em 25 de agosto de 1909, em Cachoeira, cidade do Recôncavo Baiano. Sua mãe chamava-se Cecília, negra, descendente de escravos e iniciada para Yemonjá em Feira de Santana/BA, vindo a falecer com 105 anos. Seu pai chamava Miguel, negro, também descendente de escravos e foi confirmado Kpenjigàn na Roça de Ventura (Kwe Sejá Húnde), candomblé Jeje em Cachoeira, por Gaiaku Maria Ogorensì de Gbèsén. Faleceu aos 86 anos. Sua irmã carnal, Joana, foi iniciada para o vodun Azansú por Gaiaku Pararasì, na Roça de Ventura. Suas primas foram iniciadas como Ekedi por Sinha Abali, também na Roça de Ventura. A avó paterna de Gaiaku chamava-se Maria Galdência da Conceição e sua bisavó era uma negra africana chamada Malakê, filha de Sàngó, que chegou a Cachoeira em torno de 1820, amar rada em um porão de navio, para ser escrava de uma branca por nome Pombinha Rosalva, que lhe batizou com o nome de Maria Felicidade da Conceição.

Gaiaku Luiza que é bisneta de africano e foi nascida e criada dentro do candomblé aonde chegou a morar dentro da Roça de Ventura. Teve contato com as velhas tias do candomblé que lhe ensinaram muita coisa. Em 1937 Gaiaku Luiza é iniciada para Oyá na nação ketu, no Ilé Ibecê Alaketu Àse Ògún Medjèdjè, do famoso Babalorixá Manoel Cerqueira de Amorin, mais conhecido como Nezinho de Ògún, ou Nezinho da Muritiba, filho-de-santo de Mãe Menininha do Gantois. Por motivos particulares, após 2 anos Gaiaku Luiza se afasta da Roça deste ilustre Babalorixá. Foi Sinhá Abali, segunda Gaiaku a governar a Roça de Ventura, quem viu que Gaiaku Luiza deveria ser iniciada no Jeje, nação de toda sua família, e não no Ketu. Assim, encarrega sua irmã-de-santo Kpòsúsì Romaninha, de sua inteira confiança, a iniciar Ga iaku Luiza no Terreiro Zòògodò Bogun Malè Hùndo, em Salvador. Em 1944, Gaiaku Luiza é iniciada na nação Jeje sendo a terceira a compor um barco de 3 vodunsìs. Seu barco foi constituído por uma Osún, um Azansú e uma Oyá.

Gaiaku Luiza foi uma das poucas Vodunsìs, na Bahia, que ousaram abrir uma roça de candomblé jeje-mahi. Isso ocorreu em 1952, num período em que não era comum tal prática dentro do culto jeje. Na época, supõe-se que existiam somente dois terreiros jeje-mahi na Bahia, que eram o Zòògodò Bogun Malè Hùndo (Terreiro do Bogun), em Salvador, e a Roça de Ventura (Sejá Hundê) , em Cachoeira. Com a autorização e participação de sua mãe-de-santo Kpòsúsì Romaninha, dona Luiza abriu um terreiro jeje-mahi, tornando-se, então, uma Gaiaku.

A iniciação de Gaiaku Luiza foi no Bogun. Ela chegou no Bogun no dia 9 de agosto de 1944 e só voltou para casa em 1945. Segundo depoimento da própria Gaiaku Luiza, quem comandava o Bogum naquela época era Gaiaku Emiliana, pertencente ao vodun Agué.

Foi nesse contexto que Gaiaku Luiza plantou o axé do Hùnkpámè Ayono Huntoloji. Ela narrava que:

“Em 1948, minha mãe Oyá começou a reclamar que não queria que batesse candomblé ali (casa no bairro da Liberdade). Ela passou a querer uma roça onde houvesse água, árvores frutíferas e que fosse perto da linha férrea. Saí procurando uma roça para comprar, mas não encontrava. No dia 2 de novembro, eu já estava saindo para minha procura, quando minha mãe carnal falou: ‘Logo hoje, minha filha, dia de finados’ Eu respondi: ‘Quem sabe, mamãe, os espíritos de luz me ajudam?’ Saímos eu e Delza sem destino, fomos parar em Almeida Brandão. Passamos por ponte, estrada de ferro e nada de encontrar. Adiante, vi uma placa, quando chegamos perto não era uma placa de venda, dizia o seguinte: prenda sua galinha que a roça tem veneno. Delza dizia: ‘Minha velha, vamos embora, esta chuviscando e não vamos acha r nada.’ Quando estávamos voltando e já estava anoitecendo, vi uma placa, mas não conseguia enxergar porque já estava escuro, chegamos mais perto e a placa era de vende-se. Descemos até o portão velho e caído, aí apareceu uma “Dan” (cobra), eu então falei: olha Delza esta roça vai ser nossa. A roça ficava num lugar chamado Cabrito. Começamos a gritar e de repente apareceu um velho, pé hoje e pé amanhã. Ele se aproximou perguntando se queríamos comprar frutas, eu respondi que queria comprar a roça. Era tanta “Dan”, que havia na roça que você pisava e sentia elas por baixo das folhas. Deixei tudo acertado com o velho e marcamos a negociação. Foi uma venda rápida. No dia 2 de novembro a roça já era minha verbalmente. O casal de velhos ainda ficou morando na roça por algum tempo. A velha, dona Maria era de Oyá e o velho era de Azansú. Mudei para a roça em 1950. Foi muito difícil morar ali, no começo. Não conhecia ninguém, sozinha ali, jog ada, morando naquela casinha de palha. Comi uma roxura! Comendo zinco e arrotando semânio. A inauguração da roça, em 1952, sob a permissão de Gaiaku Kpòsúsì Romaninha, foi com uma festa para Azansú, o dono da casa, e foi muita gente prestigiar. A roça recebeu o nome de Humpame Ayono Huntoloji.”

Em 1962, a roça é transferida para um local denominado Alto da Levada, próximo ao bairro do Caquende, na cidade de Cachoeira, onde permanece até hoje.

Em 20 de junho de 2005, Luiza Franquelina da Rocha, ou Gaiaku Luiza de Oyá faleceu, aos 96 anos de idade. Considerada uma das mais importantes sacerdotisas do culto afro-religioso jeje-mahi do Brasil e possuidora de uma sabedoria inigualável. Faleceu em Cachoeira, na sua roça, cercada de filhos-de-santo, amigos e familiares, como ela sempre quis e costuma dizer: “Mãe-de-santo tem que morrer dentro de sua roça”. Foi determinado, ainda em vida pela falecida, que a herdeira do posto de dirigente sacerdotal do terreiro seria sua sobrinha carnal, Regina Maria da Rocha. Dofona Regina - hoje chamada Gaiakú Regina Avimajesì - foi iniciada no Hùnkpámè Hùntóloji, num barco de 3 Vodunsìs, para o Vodun Avimaje.



-Texto extraído e readaptado do livro “Gaiaku Luiza e a trajetória do jeje-mahi”, escrito por Marcos Carvalho (Mejitó Marcos de Gbèsén), filho de santo de Gaiaku Luiza.

O DESCONHECIMENTO OU IGNORÂNCIA E QUE NOS TRAZ O MÊDO

O Kimbanda é um herbalista (que pesquisa plantas curadoras) ou curandeiro epiritual em muitas sociedades africanas e também em muitas sociedades da diáspora africana, tais como aquelas no Haiti, Cuba e Brasil.
Outro termo que designa o curandeiro da tribo é Nganga, que em determinado momento, em parte do território Banto, na África do Sul, acabou ganhando o significado totalmente ao contrário, como se o mesmo se tratasse de um "feiticeiro mal", e não o seu termo original, que é tido como um benfeitor da tribo.
O Kimbanda é bastante familiarizado com muitas das causas físicas das doenças, e utiliza ervas e plantas da medicina popular em sua prática médica. O tratamento, porém, costuma ser sempre acompanhado de amuletos e fórmulas mágicas para controlar os espíritos maus. É uma crença comum a existência de feiticeiros, pessoas que tentam fazer o mal aos outros usando, por exemplo, magias maléficas.
A tarefa do curandeiro é anular o feitiço empregando os mesmos métodos magísticos.
Os efeitos que o Kimbanda atribui aos medicamentos são devidos não somente às propriedades reais dos elementos naturais (pantas, por exemplo), mas também e sobretudo, à força simbólica desses mesmos elementos.

KIM: Médico ou sacerdote dos Cultos bantos.
BANDA: Lugar ou cidade.

KIMBANDA - O CURANDEIRO.

Artigo: Renato da Silveira
Professor da Universidade Federal da Bahia
Doutor em Antropologia pela E.H.E.S.S de Paris

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

GRANDES PERSONAGENS DO CANDOMBLÉ



Postarei uma matéria veiculada por um jornal que nos conta um pouco sobre esta riquíssima fonte de sabedoria e cultura dentro do nosso culto de òrìsá. Tenho muito orgulho de ter participado por quinze anos desta família, minha mãe, da qual me orgulho muito e seu irmão são filhos deste àse, fizeram parte do primeiro barco de Dª Regina, mo juba esa.

MATÉRIA JORNAL ICAPRA ''CANDOMBLÉ PERDE SUA IYÀ ÀGBÀ DA FAMÍLIA BAMGBOSE OBTICO''.

Por: Prof. J. Benistes



Rodolfo Sawser

Uma das últimas Iyálorisas, pertencente a uma rica geração de matriarcas plenamente identificada com as rígidas normas do Candomblé. Regina Topázio de Souza, mais conhecida como Mãe Regina de Bamgbose, foi sempre consciente de suas origens, sabendo preservar com extrema autoridade, uma vida exemplar a ser seguida pelos seus descendentes e merecedora de estudos por ser parte integrante da história dos Candomblés do Brasil.

Sua biografia se reporta aos ancestrais familiares que viveram há mais de 200 anos no Brasil, sempre dedicados a criar uma vida de trabalho e de devoção total às crenças de seus antepassados. Foram tão competentes que influenciaram as demais raízes do Candomblé. A memória coletiva revela que Ìyá Násò, depois de organizar os primeiros momentos do Candomblé do Engenho Velho, em Salvador, resolveu ir para a África juntamente com Oba Tósí, Marcelina da Silva, por volta de 1837. Após 7 anos de permanência, retorna trazendo alguns africanos, entre eles, Bamgbose de Sàngo, que aqui no Brasil tomou o nome civil de Rodolpho Martins de Andrade, e que seria o patriarca de numerosos descendentes. Numa época escravocrata, assumiu condições de trabalho, como forma de ter e lhe dar condições na organização do culto, conforme desejo de todos.
A sua vinda foi de uma importância fundamental para o grupo que estava sendo formado, tentando dar forma a um modelo de ritual dentro de um padrão de possível aceitação na nova terra. Era um grupo ligado ao culto de Sàngo, como Iya Naso, Rodolpho Obitico, Joaquim Oba Sanya, Marcelina Oba Tosi e Aninha Oba Biyi, entre outros. Isto fez com que a participação deste Orisá nos ritos religiosos se tornasse relevante, com possível razão pela inclusão do Osú, como símbolo da iniciação, o uso do ileke, o obrigatório Àmàlà semanal e a seqüência de cânticos denominada Roda de Sàngo, ponto de partida para a manifestação dos demais Orisas.

Conhecido e citado como Bamgbose (Ajuda-me a carregar o Ose) viria a ser reverenciado como Obitiko, (A família que se reúne), na relação dos ancestrais citados durante o ritual de Ipade, ao lado de Asika, Ajadi, Oduro, Kayode, Adeta Okanlede e demais personagens importantes da ancestralidade afro-brasileira. Os nomes dos homens aqui relacionados possuem muita importância, pois os antigos Babalawos eram considerados como irmãos das mães de santo e, assim, vistos como Tios merecedores do maior respeito e reverencia. Tinham eles entrados franca em todas as comunidades e sempre consultado. Eram raros, e não como nos dias atuais. Rodolpho Bamgbose aqui teve vários filhos, sendo que uma de suas filhas viria a dar sentido à família Bamgbose. Julia Maria de Andrade, falecida em 1925 e conhecida como Vovó Julia de Sàngo Aganjú, cujo nome iniciático era Oba Dára (O bom rei). Casou-se com Eduardo Américo de Souza Gomes, um africano natural de Abeokuta, onde nasceu em 1833, e para lá tendo voltado. Um dos filhos do casal seria personagem importante na linhagem religiosa, Felisberto Nazarenos Sowzer, ou Souza, de Ogunjá, iniciado por um tio, Ewetundé, cujo nome dado foi Oguntosí (Ogun é digno, poderoso). Outro filho foi para a Nigéria e não retornou.

Em uma de suas visitas ao Rio, em 1886, Bamgbose, juntamente com Joaquim Vieira e Aninha, organizou um grupo no Bairro da Saúde, num local de reunião de antigos cativos e libertos, talvez um antigo Zungu, deixando alguns símbolos e pedras ligados a Sàngo, que viria fazer parte da história do futuro Axé Opo Afonjá, do Rio. Em uma viagem de Recife para Salvador, passou mal vindo a falecer em Salvador, em 1908. Felisberto, que ficou conhecido como Benzinho, nasceu em Lagos, na Nigéria, vinda criança para o Brasil, tornou a voltar para a África e mais tarde retornando como Babalawo Ifásesi. Talvez seja que neste transito o seu sobrenome Souza. Era inteligente instruí, pois sabia falar inglês e nagô. Passou a viver com uma senhora africana chamada Damásia com quem teve duas filhas, Tertuliana Sowzer de Jesus, iniciada para Ibualámo Ode Tibuse, e Caetana Américo de Souza, já falecida, e que fez Osun Iyeponda. Fundou o Ilê Axé Lajuomin em 1941, em Salvador. Air Jose de Souza de Osogiyan Iwin Solá (Osoguiyan gerou a honra e prosperidade). Filho carnal de Tertuliana e iniciado por Caetana, sua tia viria a fundar, em Salvador, o Ilè Odo Oje, Casa do Pilão de Prata, em 1964. Caetana tem seu rosto esculpido em bronze com o título de Mãe Preta, na frente do Terreiro.

Em seu segundo casamento, com uma filha de Santo de Vovó Júlia, teve quatro filhos: Crispim de Souza, de Osoosi, Taurino de Souza de Obatalá, Regina Topázio de Souza, nascida em 1914, de Yemonja Oguntè, com o nome iniciático de Omi Olà (As águas da fortuna, da riqueza), e Irene Souza dos Santos, nascida em 1919, de Sàngo, cujo nome dado foi Oba Dipo (O rei ocupa o seu lugar), e que teve como Mãe-Pequena, Aninha Oba Biyi. Regina com 6 anos de idade, e Caetana com 13 anos foram iniciadas num mesmo barco, pelas mãos de Judith de Oya, uma filha de santo de Benzinho. Vindo para o Rio, no início do século passado, Benzinho passou a exercer suas atividades na Rua Marques de Sapucaí, no centro da cidade, e depois, na Rua Navarro, no Catumbi. Aqui viveu na mesma época de Abedé, Alágba, Pequena de Osalá e Aninha que aqui estava tendo ambos feitos o ajejê de Abedé em 1933. Foram os autores dos textos da Fecundação os Odús, um sistema de jogo de búzios, mais prático do que o intrincado sistema de ifá, devidamente adaptado à nossa realidade. Todos os Caminhos para a prática do jogo foram legados os seus filhos, tendo sido, mais tarde, adotado por todos que se utilizavam da prática do jogo por Odú.

Benzinho Bamgbose morreu no Rio, em 1943, com 6 anos de idade, tendo mais tarde seu corpo sido transferido para Salvador no mesmo cemitério onde seu avô foi enterrado na Igreja do Pelourinho. Seus descendentes, Caetana e Irene, abriram casa em Salvador; Regina de Yemonja ficou no Rio e abriu sua casa, em Santa Cruz da Serra, o Ilê Axé Iya Omi, na Baixada Fluminense em Duque de Caxias, em 1957, ficando à frente até o sei falecimento. Os Bamgbose possuem grande expressão e, sobretudo reconhecimento em razão de seus descendentes serem atuantes no meio religioso com a distinção de serem iniciados dentro deste àse poderosíssimo, realizando suas obrigações, de preferência entre si. Sendo a família biológica do Candomblé, de maior número de integrantes, transformaram o importante título Yorubá, em uma denominação marcante representativa de rica linhagem familiar, a Família dos Bamgbose.

GRANDES PERSONAGENS DO CANDOMBLÉ



MÃE OLGA DE ALAKETU

Ègbé, a idéia do post é homenagearmos as grandes Iyalorixás do Brasil, sacerdotizas que fizeram e fazem a história do candomblé brasileiro e, para começar, ninguém melhor que uma descente da familia real Arô do Ketu em Benin Nigéria.

Perfil - Mãe Olga do Alaketu.

Olga Francisca Régis, nasceu em Salvador, Bahia, em 1925. Filha de Dionísia Francisca Régis, descendente da princesa Otampé Ojarô da linhagem da família Arô, do antigo reino Ketu, Benin África ocidental. Mãe Olga do Alaketu como era conhecida faleceu no dia 29 de setembro de 2005.
A princesa Otampé Ojarô recebeu no Brasil o nome cristão de Maria do Rosário Francisca Régis, e foi um mito na fundação do terreiro.
Otampé foi sequestrada no final do século XVII, aos nove anos de idade por soldados daomeanos juntamente com sua irmã gemea Obôko Mixôbi e ambas foram vendidas a traficantes de escravos. No Brasil, foram compradas no mercado de escravos aos 16 anos e alforriadas. Otampé teria voltado a África , se casado e posteriormente voltando a Bahia seu marido adotou o nome de João Porfírio Régis. Ao chegar a Bahia arrendou um tereno na antiga Estrada do Matatu Grande, fundando o Ilê Maroiá Láji, casa dedicada a Oxumare até os dias de hoje.
Filha de Oyá com Irôko, Mãe Olga sempre dizia que os Orixás são seus educadores. MÃE OLGA DO ALAKETU- 79 anjos

INICIAÇÃO: 79 anos

Filhos canais: 12

Filhos iniciados: mais de 100

Orixá: Oyá

Mãe Olga do Alaketu, criada de acordo com os costumes africanos, foi iniciada aos 12 anos de idade, no Ilê Axé Maroiá Láji, em Matatu de Brotas. Antes de ser iniciada no candomblé, trabalhava com pintura, tecelagem e bordados. Aos 79 anos, a yalorixá passa seus conhecimentos a filhos, netos e bisnetos.
A mãe-de-santo conta que, em paralelo ao candomblé, teve também uma criação católica e sempre freqüentou a Igreja. "Eu fui batizada e crismada, e minha tia foi criada em um convento", explica.
Mãe Olga teve 12 filhos biológicos, mas apenas seis estão vivos. Eles sempre acompanharam a mãe nas tarefas do candomblé e cresceram seguindo a religião. Foram iniciados ainda criança e todos ocupam cargo no terreiro. "Minha relação com eles, dentro do axé, é de acordo com as regras africanas. Em casa, eles tinham obrigações com os estudos e com o trabalho", explica.
No candomblé, a yalorixá diz que não existe diferença na maneira de amar e tratar os filhos biológicos e os filhos-de-santo. "Uma yalorixá deve ter tanto amor pelos filhos-de-santo quanto por aqueles gerados por nós. Sempre peço a Deus por todos eles, que tenham saúde, paz e prosperidade, em qualquer lugar", diz mãe Olga. "Os orixás são meus educadores. Foi para eles que vivi 79 anos e ensinei a meus filhos a acreditar na força de Deus e dos orixás", explica.

Educação
A Iyalorixá compara a forma que foi criada, na década de 20, com a educação dos dias atuais. Mãe Olga conta que foi rigorosa com a educação de seus filhos e critica a educação dos jovens na atualidade. "O dever de um filho é obediência e respeito aos pais, o contrário do que se ver hoje. Os valores estão se perdendo com a criação moderna", diz.
Mãe Olga alerta para os pais terem mais cuidados com os filhos. "A violência está cada vez maior. Não se deve privar a diversão, mas é preciso saber para onde vão e com quais companhias", afirma. "Peço que tenham fé nos orixás".

Mãe Olga recebeu das mãos do então Ministro da Cultura Gilberto Gi e de Mãe Stella de Oxóssi, o Prêmio Opaxorô.

Sites: Mãe Olga do Alaketu.

GRANDES NOMES DO CANDOMBLÉ KETU


Èbgbé, dando continuidade as homenagens as grandes Iyalorixás do Brasil, Mãe Menininha do Gantois eternizou-se em Mãe Oxun.

Nasceu em 10 de fevereiro de 1894, dia de Santa Escolástica, na Rua da Assembléia, entre a Rua do Tira Chapéu e a Rua da Ajuda, no Centro Histórico de Salvador, Mãe Menininha teve como pais Joaquim e Maria da Glória.

Foi a quarta Iyálorixá do Terreiro do Gantois e a mais famosa de todas as Iyálorixá brasileiras. Sucessora de sua mãe, Maria da Glória Nazareth, foi sucedida por sua filha, Mãe Cleusa Millet que foi sucedida pela atual Iyalorixá Mãe Carmem D'Osogiyan.

Descendente de escravos africanos, ainda criança foi escolhida para ser Iyálorixá do terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê, fundado em 1849 por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, cujos pais eram originários de Agbeokuta, sudoeste da Nigéria.

O terreiro, que inicialmente funcionava na Barroquinha, na zona central de Salvador, foi posteriormente, foi transferido para o bairro da Federação, instalando-se em terreno arrendado aos Gantois - família de traficantes de escravos e proprietários de terras de origem belga - pelo cônjuge de Maria Júlia, o negro alforriado Francisco Nazareth de Eta.[1] Situado num lugar alto e cercado por um bosque, o local de difícil acesso era bem conveniente numa época em que o candomblé era perseguido pelas forças da ordem. Geralmente, os rituais terminavam subitamente com a chegada da polícia.[2]

Maria Escolástica foi apelidada Menininha, talvez por seu aspecto franzino. “Não sei quem pôs em mim o nome de Menininha… Minha infância não tem muito o que contar… Agora, dançava o candomblé com todos desde os seis anos”.

Foi iniciada no culto dos orixás de Keto aos 8 anos de idade por sua tia-avó e madrinha de batismo, Pulchéria Maria da Conceição (Mãe Pulchéria), chamada Kekerê - em referência à sua posição hierárquica, Iyá kekerê (Mãe pequena). Menininha seria sua sucessora na função de Iyalorixá do Gantois. Com a morte repentina de Mãe Pulchéria, em 1918, o processo de sucessão foi acelerado. Por um curto período, enquanto a jovem se preparava para assumir o cargo, sua mãe biológica, Maria da Glória Nazareth, permaneceu à frente do Gantois.

"Minha avó, minha tia e os chefes da casa diziam que eu tinha que servir. Eu não podia dizer que não, mas tinha um medo horroroso da missão (...): passar a vida inteira inteira ouvindo relatos de aflições e ter que ficar calada, guardar tudo para mim, procurar a meditação dos encantados para acabar com o sofrimento." [3]

Em 1922, através do jogo de búzios, os orixás Oxóssi, Xangô, Oxum e Obaluaiyê confirmaram a escolha de Menininha, então com 28 anos. Em 18 de fevereiro daquele ano, ela assume definitivamente o terreiro. "Quando os orixás me escolheram eu não recusei, mas balancei muito para aceitar", contava.

A partir da década de 1930, a perseguição ao candomblé vai arrefecendo, mas uma Lei de Jogos e Costumes, condicionava a realização de rituais à autorização policial, além de limitar o horário de término dos cultos às 22 horas. Mãe Menininha foi uma das principais articuladoras do término das restrições e proibições. "Isso é uma tradição ancestral, doutor", ponderava a ialorixá diante do chefe da Delegacia de Jogos e Costumes. "Venha dar uma olhadinha o senhor também."

Mãe Menininha abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos - uma abertura que, em muitos terreiros, ainda é vista com certo estranhamento. Mas afinal, a Lei de Jogos e Costumes foi extinta em meados dos anos 1970. "Como um bispo progressista na Igreja Católica, Menininha modernizou o candomblé sem permitir que ele se transformasse num espetáculo para turistas", analisa o professor Cid Teixeira, da Universidade Federal da Bahia.

Nunca deixou de assistir à missa e até convenceu os bispos da Bahia a permitir a entrada nas igrejas de mulheres, inclusive ela, vestidas com as roupas tradicionais do candomblé.[4]

Aos 29 anos, Menininha casou-se com o advogado Álvaro MacDowell de Oliveira, descendente de escoceses. Com ele teve duas filhas, Cleusa e Carmem. “Meu marido, quando me conheceu, sabia que eu era do candomblé… A gente viveu em paz porque ele passou a gostar de Candomblé. Mas, quando fui feita Iyalorixá, passamos a morar separados. No meu terreiro, eu e minhas filhas. Marido não. Elas nasceram aqui mesmo”. [5]

Em uma entrevista à revista IstoÉ, mãe Carmem conta que ela adorava assistir telenovelas, sendo que uma de suas preferidas teria sido Selva de Pedra.[6] Era colecionadora de peças de porcelana, louça e de cristais, que guardava muito zelo. Não bebia Coca-Cola, pois certa vez lhe disseram que a bebida servia para desentupir os ralos de pias, e ela temia que a ingestão da bebida fizesse efeito análogo em si.[6]

Mãe Menininha do Gantois faleceu de causas naturais, aos 92 anos de idade.

[editar] Homenagens
Mãe Menininha, aos 8 anos de idade.O terreiro está localizado na rua Mãe Menininha do Gantois (antiga rua da Boa Vista, renomeada em 1986),[3] no Alto do Gantois, bairro da Federação, em Salvador. Após a sua morte, seus filhos deixaram seu quarto intacto, com seus objetos de uso pessoal e ritualísticos. O aposento foi transformado no Memorial Mãe Menininha e é uma das grandes atrações do Gantois.

— Ederaldo Gentil e Anísio Félix. "In-Lê-In-Lá", 1976

In-Lê-In-Lá Lá Lá Ê, In-Lê-In-lá, Oilá
In-Lê-In-Lá Lá Lá Ê, In-Lê-In-lá

Os candomblés estão batendo, foguetes explodem no ar
Em louvor a Menininha, senhora, mãe e rainha do Gantois
Pelo seu aniversário de cinquentenário de Ialorixá (3x)
Ôôô, ÔôÔôôÔô, salve mamãe Oxum, salve meu pai Xangô (2x)
Cinquentenário de batalhas, cinquentenário de fé
Desde quando recebeu os poderes de Maria dos Prazeres Nazaré
Sua vidência se alastrou, iaô iaô iaô ô (2x)
Sacerdotisa de uma raça, rainha de uma nação,
na luta na defesa dos descrentes, ela sempre estendeu suas mãos
Hoje os candomblés estão batendo a seu nome venerar
Ia-mi-mojubá, salve o seu axé, seu candomblé do Alto do Gantois (2x)
---------
A beleza do mundo, hein
Tá no Gantois
E a mãe da doçura, hein
Tá no Gantois...

— Dorival Caymmi. "Oração de Mãe Menininha", 1972.

Site: Mãe Menininha

PERSONAGENS DA HISTORIA DO CANDOMBLÉ

A maior guerreira entre todas Yalorixás Mãe Aninha.

Primeira Iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá Bahia.

Filha de africanos, Eugênia Ana dos Santos, a iyalorixá Obá Biyi, nasceu em Salvador em 1869. Mais conhecida como Mãe Aninha, ela foi iniciada no candomblé do Engenho Velho – a casa de Iyá Nassô – fundado por volta de 1830 e o primeiro a funcionar regularmente na Bahia. Saiu de lá para formar uma nova casa, o Ilê Axé Opô Afonjá, hoje considerado Patrimônio Histórico Nacional.

Em 1935, Martiniano do Bonfim sugeriu a Mãe Aninha que criasse o Corpo dos Obás de Xangô, que deveria ser integrado por amigos e protetores do terreiro. Martiniano era uma das personalidades mais respeitadas da comunidade afro-baiana. Havia retornado da Nigéria em 1883, portando altos títulos da hierarquia sacerdotal yorubana. Sua idéia tornou-se real, quando, em 1936, foi instituído o corpo de obás, ou 12 ministros de Xangô do Axé Opô Afonjá. Até hoje são escolhidas pessoas de grande prestígio social para ocupar esse corpo.

A função principal dos obás é a sustentação do axé, tanto do ponto de vista material quanto do seu status. No Ilê Axé Opô Afonjá, ainda hoje os obás formam uma seleta hierarquia, abaixo somente da mãe-de-santo e da mãe pequena, eventual substituta da mãe-de-santo. Na Bahia, a criação dos obás trouxe ao culto de Xangô um importante exército de reforço. Nas últimas décadas, já ocuparam esse posto os escritores Jorge Amado e Antônio Olinto, os compositores Gilberto Gil e Dorival Caymmi, o artista plástico Carybé e os pesquisadores Vivaldo da Costa Lima e Muniz Sodré, entre outros.

Mãe Aninha sempre lutou para fortalecer o culto do candomblé no Brasil e garantir condições para o seu livre exercício. Segundo consta, por intermédio do ministro Osvaldo Aranha, que era seu filho de santo, Mãe Aninha provocou a promulgação do Decreto Presidencial nº 1202, no primeiro governo de Getúlio Vargas, pondo fim à proibição aos cultos afro-brasileiros em 1934.

Em sua época, foi uma personalidade importante, muito respeitada e popular nos candomblés da Bahia. Foi ela quem revelou ao pai Agenor sua vocação para candomblé quando ele ainda era criança. Falecida em 1938, Mãe Aninha foi sucedida por Mãe Bada de Oxalá e depois por Maria Bibiana do Espírito Santo, Oxum Muiuá, popularmente conhecida como Mãe Senhora de Oxum.pan>

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

HISTÓRIA DE GRANDES PERSONAGENS DO CANDOMBLÉ

MÃE SENHORA
Ao pé da letra, realmente a frente do seu tempo a inesquecível Mãe Senhora D'Oxun.
Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, Oxum Muiwá, filha legítima de Félix do Espírito Santo e Claudiana do Espírito Santo, nasceu em 31 de março de 1900, na Ladeira da Praça em Salvador, Bahia.
Era descendente da nobre e tradicional família Asipá, originária de Oyo e Ketu na África, importantes cidades do império Yoruba. Sua trisavó, Sra. Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi uma das fundadoras da primeira casa da tradição nagô no Brasil o Ilê Axé Aira Intile, Candomblé da Barroquinha, depois Casa Branca do Engenho Velho, que deu origem aos terreiros do Gantois (Ilê Axé Omi Iyamassê) e o Ilê Axé Opô Afonjá, do São Gonçalo do Retiro.
Não se tem muita informação sobre a vida de Maria Bibiana, do nascimento até os 7 anos, talvez em razão da pouca importância que se dá nas comunidades de candomblé aos fatos e datas da vida secular e do pudor cerimonioso com que são tratados os fatos da vida pessoal dos seus membros, sobretudo aqueles tornados líderes, com uma posição e autoridade a serem preservados.
O que sabemos é que foi iniciada aos 7 anos de idade e, nesta época, já recebeu de sua mãe-de-santo, Eugênia Anna dos Santos, Mãe Aninha, Obá Biyi, a “cuia” que pertencera à sua bisavó, Marcelina Obatossí. O merecimento excepcional obtido por Senhora em tão tenra idade, deveu-se à sua linhagem familiar e espiritual.
Senhora foi preparada por Obá Biyi para ser sua sucessora. No Axé Opó Afonjá foi a Ossi Dagã e nas ausências de Mãe Aninha, assumia os cuidados com o culto e os filhos da Casa, auxiliando as tias e irmãs mais antigas no comando da comunidade.
Com a morte de Mãe Aninha e “depois de realizadas todas as obrigações e preceitos de acordo com a liturgia da seita, e tudo regularizado dentro do Axé Opô Afonjá”, em junho de 1939, Mãe Senhora assume, ainda com o título de Ialaxé, a direção do terreiro – “como era de direito, devido à sua tradicional família da nação Ketu, ao lado de Mãe Bada, Maria da Purificação Lopes, Olufan Deiyi, já idosa, mas reconhecidamente sábia e experiente, propiciando uma transição segura e tranquila até a sucessão concluída com sua morte e luto ritual. Segundo Deoscóredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi, seu único filho biológico, Mãe Senhora torna-se de fato e direito a Ialorixá do Axé, em 19 de agosto de 1942.”
No Ilê Agboulá, comunidade do culto dos Eguns de Ponta de Areia, ilha de Itaparica, exerceu sua liderança e recebeu o título mais elevado dado a uma mulher – Iya Egbé.
Sua fé em Xangô era inabalável, e sua dedicação ao orixá de sua mãe-de-santo era “maior até que ao seu próprio orixá” – que ela chamava de “meu anjo da guarda”.
Mesmo não residindo “na roça”, estava presente e tudo controlava com extremo rigor e pontualidade, empenhando todos os esforços para a fidelidade dos preceitos com entusiasmada dedicação.
Esta Senhora de Oxum de forte personalidade, deu seguimento às comemorações e festas tradicionais de acordo com o calendário estabelecido por Dona Aninha. Mantinha muitos dos hábitos instituídos por sua mãe-de-santo, como ter a sua manutenção econômica assegurada por atividade independente do sacerdócio.
Vivia o sacerdócio como uma missão. A partir de 1942, Senhora, já ialorixá, começou a tomar providências importantes para neutralizar as reticências e oposições que por ventura ainda perdurassem no interior do egbé e a substituir cargos tornados vacantes por afastamento, morte ou para reforçar sua liderança.
Criou então os cargos de substitutos no quadro dos Obás de Xangô – os otuns e os ossi obás – ou seja, os primeiros e segundos substitutos dos titulares, ampliando o quadro inicial dos 12 titulares para 36. E aprimorou a instituição, definindo suas funções e estendendo a escolha dos obás para o âmbito social, além dos limites da comunidade religiosa.
Provavelmente já como fruto desta nova orientação no corpo dos obás, Senhora e o Axé começaram a colher frutos importantes. Pierre Verger, que desde 1946 fixara residência na Bahia e, a partir de 48, fazia frequentes viagens à Africa, já desenvolvendo pesquisas, tornou-se um interlocutor interessado na retomada das relações entre afro-brasileiros e africanos. Foi assim, que em 1952, Dona Senhora, Oxum Muiwá, recebeu do Oba Adeniram Adeyemi, o Alafin (rei) de Oió, na Nigéria, um edun ará e um xerê de Xangô, acompanhados de uma carta, tratando-a com título de Iyanassô.
Como explica Vivaldo da Costa Lima, num artigo intitulado Ainda sobre a Nação Queto, Iyanassô é um título altamente honorífico, privativo da corte de Alafin de Oió, isto é, o “rei de todos os yorubás”. É a Iyá Nassó quem, em Oió, a capital da nação política dos yorubás, se encarrega do culto de Xangô, a principal divindade dos yorubás e o orixá pessoal do rei.
Dona Maria Bibiana do Espírito Santo comungava do entusiasmo de Pierre Verger de verem reatadas as relações culturais com a África e recebia com frequência a visita de intelectuais e embaixadores de países africanos como Daomé, Ghana e Senegal. O governo senegalês conferiu-lhe, em 1966, a comenda do “Cavalheiro da Ordem do Mérito”, pelos relevantes serviços prestados na preservação da cultura africana no Novo Mundo.
Mãe Senhora quando jovem
Dona Senhora de Oxum teve a satisfação de ver reconhecida a sua liderança espiritual, ainda em vida, em muitas homenagens que recebeu:
Em 1957, por ocasião do cinquentenário de sua iniciação, foi homenageada com uma grande festa no barracão do Axé lotado dos filhos-de-santo, obás e demais integrantes do egbé, delegações dos mais diversos candomblés da Bahia, personalidades da vida intelectual, muitas delas vindas do Rio de Janeiro e São Paulo, inclusive representações do presidente Juscelino Kubitschek e do seu ministro da Educação.
Em 1959, por ocasião do IV Colóquio Luso-Brasileiro, realizado pela UFBA, Dona Senhora ofereceu no Axé um grande amalá de Xangô, numa festa pública dedicada aos congressistas. Durante a festa, o escritor Jorge Amado saudou os convidados, em nome do terreiro e de sua ialorixá, dizendo “…Estais em vossa casa porque este terreiro de Xangô, este candomblé de Senhora, tem sido – permanentemente e sempre – uma casa da cultura e da inteligência baiana… somos orgulhosos deste templo e de seu significado. Aqui passaram e estudaram Martiniano do Bonfim, babalaô da casa, nosso Édison Carneiro, o feiticeiro Pierre Verger e hoje nós, homens de cultura, somos os defensores do seu segredo e de sua grandeza, ao lado desta figura invulgar de mulher, feita de uma só peça, rainha, se a este título damos sua significação mais profunda…”
Em 1965, Mãe Senhora recebeu o título de “Mãe Preta do Brasil” e foi aclamada pelas comunidades religiosas afro-brasileiras, que lotaram o Maracanã, no Rio de janeiro, com seus representantes, além de políticos e jornalistas.
Deixamos com Mestre Didi, seu filho e importante historiador da tradição da sua comunidade, a notícia do seu falecimento: “No dia 22 de janeiro de 1967, Maria Bibiana do Espírito Santo veio a falecer pela manhã, ao nascer do sol… Mãe Senhora, assim, como todos os de sua família, morreu de repente, e talvez por isso pareceu impossível a muitos acreditar na notícia da sua morte. Tão forte ainda, aparentemente tão sadia, com aquela presença de rainha, sua força de comando, sua intimidade com os orixás!”
Por:José Felix dos Santos – Bisneto de Mãe Senhora, Otun Algba do Ilê Axipa, Ogã do Ilê Axé Opô Afonjá
NOTA DO EDITOR – O texto acima é um resumo da introdução do livro Maria Bibiana do Espírito Santo – MÃE SENHORA: saudade e memória, organizado por José Felix dos Santos e Cida Nóbrega – Salvador, Corrupio, 2000, 184 p.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

GRANDES NOMES DO CANDOMBLÉ KETU

Dando Continuidade ao post Perfil das grandes celebridades, trazemos a mais importante personalidade dentre todas: Iya Nassô.
Iyalorixa conhecida como fundadora do Mítico Candomblé da Barroquinha, Casa Branca do Engenho Velho, Iyá Nassô Oká, juntamente com outras duas Iyas preservadas na tradição oral do Candomblé bahiano de Ketu, Iyá Akalá e Iyá Adetá, são ladeadas de mistérios e segredos em um tempo quase imemoravel.

No entanto nos últimos anos muitos tem sido os interessados em desvendar este mistério que paira sobre a origem do Candomblé de Ketu. Além de Pierre Verger, Vivaldo Costa Lima, Nina Rodrigues entre outros, temos alguns contemporâneos como Renato da Silveira e Lisa Earl Castilho que trazem a tona muitos documentos que apontam para desmitificação desta história.

Em sua pesquisa documental Lisa Earl Castilho, que foi publicada pela revista Afro-Asia em sua edição 36 de 2007. Ela através de uma pesquisa profunda nos arquivos públicos da Bahia traz a luz inumeros documentos como testamentos, ocorrências policiais, cartas de alforria, petições entre outros que apontam a identidade "brasileira" de Iya Nassô, que como ja esclarecido por diversos entendidos do assunto, é o nome de um titulo da corte do Alafin de Oyo, responsável pelo culto a Sango e divindades secundarias ligadas a este no palacio de Oyo, importante cidade-estado durante séculos.

Através do testamento deixado por Marcelina da Silva (Oba Tossi) em que ela descreve seu desejo em que seja celebrada in memorian missa a seus antigos senhores Jose Pedro Autran e Francisca Silva casados, moradores da Ladeira do Passo, na Freguesia do Passo em Salvador e seu filho Domingos a pesquisadora da inicio a uma serie de desenrolares na história acerca dessa figura lendária.

Através de outros documentos, ela identifica que este senhores a que Marcelina (Obatossi) cita em seu testamento eram negros da Costa forros libertos, e também proprietário de escravos, já que naquela época a posse de escravos era considerado um investimento seguro e lucrativo, mesmo por parte de ex escravos, que apesar do preconceito existente ascenderam economicamente na Bahia daqueles tempos. Esta senhora e seu marido Jose Pedro Autran constam em muitos documentos principalmente em concessão de alforrias, em especial em fevereiro de 1937 que concederam mais de 15 alforrias a seus escravos inclusive Marcelina (Obatossi) e sua filha a crioula Magdalena constando mais tarde em Outubro na alfândega registros destes e seus escravos alforriados vistos para viagem a África mais especificamente a Costa como era conhecida aquela região da África naqueles tempos. Isso comprova o que diz a tradição oral a respeito da viagem a África por Iya Nasso e Obatossi relatada por Mãe Senhora a Pierre Verger e Costa Lima.

Mas o fato motivador da viagem desta de volta a África pode ter sido por outras razões que não o de aperfeiçoar seu conhecimento a respeito do culto aos Orixás. Considerando a hipótese apontada pela pesquisadora de que Francisca Silva seria a lendária Iya Nassô, "comprovada" por toda documentação pesquisada, esta teria saido do Brasil por conta da perseguição estabelecida pelas autoridades após a revolta do malês na Bahia, tendo seu filho como um dos suspeitos da insurreição. Ela em defesa de seu filho, Domingos, citado por Obatossi em seu testamento opta por deixar o país em troca de seu filho ser deportado. Segundo a pesquisadora após Outubro de 1837 nada mais indicava um retorno de Francisca Silva (Iya Nassô) a Bahia, tendo possivelmente falecido por lá. No entanto em meados nos anos de 1840 documentos voltam a apontar Marcelina Silva (Obatossi) tais como registros de batismo, escrituras de imóveis apontando que esta voltou da viagem a África e se estabeleceu novamente na Bahia, possivelmente assumindo o culto deixado por Iya Nassô, e mais tarde fundando o Terreiro da Casa Branca o Ilê Axe Iya Nassô Oka.

Na pesquisa um outro descrito interessante refere-se a prisão de seus filhos suspeitos de participantes da Revolta do Malês, ns ocorrências policiais testemunhos de pessoas próximas da casa de Francisca Silva descreve festas com a presença de um grande numero de nagos, vestidos de branco e vermelho com colares no pescoço, cânticos em língua ioruba, possivelmente um culto a Xango já que seu outro filho Thomé possuía registro de origem, ele vinha de Oyo.

Todos estes fatos documentados apontam para uma hipótese bastante concreta de que Francisca Silva tenha sido Iya Nassô e que esta tenha de fato trazido consigo o culto a Xango e talvez outras divindades secundarias daquela região de Oyo, e tenha voltado a África sem retorno a Bahia, porem deixado para sempre seu nome registrado na história do Candomblé de Ketu, sucedida anos depois por Marcelina Silva (Obatossi) que mais tarde o lado de Iya Adeta e Akala fundam a Casa Branca.

Concluindo todos estes fatos constatados a hipótese é de que Iya Nassô tenha sido mesmo a Sra Francisca Silva e tenha cultuado Xango em sua própria casa até sua partida para África, permanecendo no Brasil ainda Iya Adeta e Akala que promoviam também em suas casas cultos a Odé (Oxossi) e Aira. A outra hipótese que conclui-se é que o Candomblé da Barroquinha a que todos se referiam eram os festejos realizados no salão de festa anexo a Igreja da Barroquinha, sede da Irmandade do Martirios, aonde realizam a sombra do sincretismo festas a seus Orixás, o Candomblé como conhecemos hoje so teria passado a existir a partir da fundação da Casa Branca.
Referências:
* Silveira, Renato da, Candomblé da Barroquinha, Editora: Maianga ISBN 8588543419
* [(Liza Earl Castilho / Luis Nicolau Pares)] Marcelina da Silva e seu Mundo: Novos dados para um historiografia do Candomblé Ketu. Afro-Asia 36 (2007) 111, 151