quinta-feira, 14 de abril de 2011

Parte 2 do Itá da Criação do Mundo.

Oposto ao motivo deste conjunto de regras e regulamentos, Deus desenvolveu um plano para despachar todas as divindades para a terra simultaneamente sem nenhum aviso prévio. Uma bela manhã, portanto, Deus chamou a sua criada Arugba para convidar cada uma das divindades, em suas respectivas casas, para aparecerem no palácio celeste na manhã seguinte para um desígnio especial.
Arugba pôs-se a caminho muito cedo naquela manhã. Antes então de qualquer modo, Deus tinha preparado uma câmara especial completamente equipada com vários implementos com os quais Ele contava que as divindades executassem suas tarefas na terra. A mensagem de Arugba para cada uma das divindades foi clara.
“Meu pai me enviou para convidá-lo a se preparar para uma tarefa especial amanhã pela manhã.
Você deve começar se preparando para partir em missão assim que a mensagem divina lhe for dada.
“Você não deve retornar para sua casa antes de embarcar na missão.”
A maioria das Divindades levou a mensagem ao “pé-da-letra” e não se preocupou em se informar com seus próprios conselheiros ou guardiões em como começar a tarefa que Deus tinha reservado para eles. Arugba visitou as casas das divindades por ordem de idade, que significa que Ọrúnmilá, o mais moço das divindades, foi o último a ser visitado.
Entretanto, Ọrúnmilá que estava habituado a criar circunstâncias de divinação toda manhã, foi avisado por Ifá a fazer um banquete naquele dia particular em antecipação a uma visita em sua residência. Na hora que Arugba alcançou a casa de Ọrúnmilá, já era muito tarde da noite. Não tinha feito nenhuma refeição desde a manhã, e Arugba já estava com muita fome quando alcançou a casa de Ọrúnmilá. Antes de permiti-la entregar a mensagem divina, Ọrúnmilá a persuadiu a fazer uma refeição. Ela comeu até se satisfazer e então contou a Ọrúnmilá que Deus queria que ele
comparecesse em seu palácio no próximo dia, junto com as outras divindades para uma missão especial.
Em reconhecimento a hospitalidade de Ọrúnmilá, ela confidenciou ajudando-o revelando detalhes da missão que Deus tinha reservado para eles.
Ela o avisou para pedir por três favores especiais para Deus em adição a qualquer instrumento que ele coletaria da Câmara Especial para sua missão. Ele deveria perguntar pelo CAMALEÃO, (Alagemo em Yorùbá e OMAENEROKHI em Bini), a galinha multicolorida doméstica de Deus, e a bolsa especial do próprio Deus (Akponimijekun em Yorùbá e Agbavboko em Bini). Nós veremos o significado deste pedido especial mais tarde. Em uma última ressalva, Arugba informou Ọrúnmilá que se ele assim o desejasse, poderia também persuadir Deus em levá-la acompanhando-o na sua missão. Com estas palavras de aviso Arugba partiu para casa, tendo completado sua tarefa.
Na manhã seguinte, um após o outro, todas as divindades apresentaram-se no Palácio Divino de
Deus. Tão logo que chegaram, Deus pediu para cada um deles prosseguir na jornada para a terra sem regressar aos seus respectivos lares. Um após o outro eles vieram e se moveram marchando em ordem para partir para a terra. As primeiras divindades a chegarem a terra logo descobriram que não havia solo para pisar. Todo o lugar era alagado. Havia uma única palmeira que se encontrava no meio das águas com suas raízes no céu, que era o portão para o mesmo. Como eles estavam chegando, e não tinham nenhum outro lugar para ficar exceto nos ramos da palmeira. Era um momento realmente muito difícil.
Antes de partir do céu, cada uma das divindades recolheu da Câmara Especial de Deus todo o material e instrumentos de suas preferências. São os mesmos instrumentos que os iniciados no culto de cada uma das divindades usam na iniciação nos dias de hoje.
Quando Ọrúnmilá chegou ao Palácio de Deus, todos os outros já tinham ido.
Ele apresentou-se ao Pai Todo-Poderoso, e igualmente seguiu marchando em ordem imediatamente para a terra. Ele foi informado como os outros, a recolher todo instrumento que ele achasse na Câmara Especial. Contudo, todos os instrumentos disponíveis tinham sido coletados pelos outros e havia uma única inútil concha de caracol.
Ele não tinha escolha, mas agarrou-se a ela e então suplicou a Deus que já que não tinha nada mais para resgatar da Câmara Especial, pediu:
(a) O Camaleão - a, mas velha das criaturas na casa de Deus para aconselhá-lo em como tentar resolver os problemas da fixação das habitações terrestres.
(b) O benefício de ir a terra com a multicolorida galinha doméstica divina de Deus.
(c) A bolsa divina do próprio Pai Todo Poderoso, para recolher as coisas que ele estava levando, e...
(d) O privilégio de ir para a terra com Arugba, para fazê-los lembrar das regras do céu.
Seus quatro pedidos foram atendidos. Como ele estava partindo, ele coletou quatro plantas diferentes, que um sacerdote de Ifá usa para todos os seus preparativos. Ele também coletou amostras de plantas e animais que ele pôde colocar nas mãos. Ele guardou sua coleção na sacola que Deus lhe havia dado. A sacola Divina tinha a misteriosa capacidade de acomodar qualquer coisa, não importando o tamanho e também produzir tudo o que era preciso para isso.
Quando Ọrúnmilá alcançou o portão para a terra, ele encontrou todas as outras divindades penduradas nos ramos da palmeira. Ele também não tinha opção exceto se unir a eles.
Depois de Ọrúnmilá ter estado sentado ou parado nos ramos da palmeira por algum tempo, Arugba recomendou-o, de dentro da sacola Divina onde estava escondida, a pegar a concha do caracol, e virar a boca da mesma na água abaixo porque continha a base do solo da terra e que faria o chão firme para pisarem.
Ọrúnmilá que tinha coletado a concha do caracol vazia da Câmara Especial de Deus, não sabia do seu conteúdo. É também óbvio que se encontrou com somente a concha do caracol dentro da Câmara Especial de Deus porque todos os outros a tinham ignorado. Nenhum deles a não ser Arugba sabia que continha o Segredo da terra. Quando Ọrúnmilá virou a boca da concha do caracol para baixo, o escasso conteúdo de areia caiu na água abaixo e esta começou a borbulhar. Dentro de pouco tempo, grande quantidade de areia começou a se empilhar ao redor da palmeira. Depois de muitos montes terem se formado, Arugba falou outra vez a Ọrúnmilá de dentro da sacola. Desta
vez, recomendando-o a deixar cair à galinha nos montes da areia. Como a galinha espalhou os montes, a área da terra começou a expandir. É a mesma operação que a galinha está executando até hoje. Onde quer que a galinha seja encontrada, vê-se usar os pés para dispersar a areia na terra.
Depois de o solo ter sido expandido sobre uma extensa área, as outras divindades que estavam pasmas com a misteriosa performance de Ọrúnm.lá. Mandaram-no descer e caminhar no solo para verificar se ele poderia suportá-los. Mais uma vez Arugba aconselhou Ọrúnmilá para com a sacola, soltar o camaleão para caminhar primeiro no solo. O camaleão andou sobre o solo furtivamente, por temer que pudesse desmoronar sob seus pés. Mas o chão agüentou firme, e esta é a mesma prudência andando marchando que o camaleão ficou acostumado, até o dia de hoje. Este é o porquê do camaleão pisar gentilmente no solo.
Logo que Ọrúnmilá teve certeza de que o solo estava suficientemente forte, ele desceu da palmeira para a terra, e sua primeira tarefa foi transplantar as plantas que trouxe do céu. Depois disso todas as outras divindades desceram para a terra uma depois da outra. Este é o motivo porque a palmeira, a primeira a ser criada das que tinham suas raízes no céu, é respeitada por todas as divindades. É o antepassado de sua estirpe. Todas as divindades espalharam-se da palmeira para estabelecer seus vários domicílios em diferentes partes da terra. Ọrúnmilá sendo o mais jovem de todas as divindades morou e serviu a cada um dos mais velhos, um de cada vez. Ele serviu Ògún, Şàngó, Olokún, Eziza, etc.
No decurso de sua servidão, uma das divindades apoderou-se de Arugba. Ele foi desta maneira despojado de sua Conselheira Chefe e confidente.
É importante neste estágio mencionar que o processo de iniciação na religião de Ọrúnmilá ou Ifismo é uma tentativa para recordar este processo da partida do céu e chegada no mundo para se estabelecer através da palmeira. A mulher que carrega os Ikin em sua cabeça para Ugbodu é chamada de Arugba. É considerado um fato que Ọrúnmilá nunca casou com Arugba, também não é aconselhável a nenhum iniciado de Ifá casar coma mulher que o acompanha com o UGBODU.
Justamente por isso não é aconselhável empregar alguma esposa para a cerimônia, a fim da mulher não ser na verdade seduzida por algum tempo depois da cerimônia, ou pela morte ou por outros.
A presença de Arugba como única mulher em volta, criou uma gama de problemas para as divindades. Uma após outra, eles lutaram para retê-la. O conflito por Arugba logo trouxe a tona a pior das divindades. A violência de alguns, isto á, Şàngó, Sankpana, Ògún, etc., combates mútuos com todas as defesas a sua disposição. Houve total confusão que se encheu de aspereza entre eles.
Neste momento, Ọrúnmilá foi o primeiro a retornar ao céu para fazer um relato a Deus. O papel de protetor de Arugba perdeu-se para as divindades porque ela tinha sido privada da companhia de Ọrúnmilá com quem ela veio ao mundo.
Todas as outras divindades tinham se estabelecido com os instrumentos que eles coletaram na Câmara Especial de Deus. De sua parte, Ọrúnmilá tinha perdido o uso de todas as coisas que ele trouxe, inclusive até a Sacola Divina, dos quais sem os conselhos de Arugba, ele não sabia como usar. Depois de ter levado uma vida de privações e penúria, ele decidiu voltar para o céu para perguntar a Deus porque a vida na terra era tão dolorosamente diferente da vida no céu. Até as quatro plantas que ele trouxe do céu não o ajudaram apesar de elas serem usadas unicamente durante a iniciação de Ifá até hoje, e elas também são usadas para alguns preparados medicinais
feitos por Ọrúnm.lá.
Quando foi o momento de Ọrúnmilá retornar para o céu, ele foi até o pé da palmeira e subiu para seus ramos donde ele se transfigurou para o céu. De volta ao céu, ele foi o único das muitas divindades a ver a última forma física do próprio Deus.
O Deus Onipotente que era conhecido por nunca perder sua calma estava evidentemente aborrecido diante de Ọrúnmilá. Ele apresentou suas desculpas a Deus por olhar os traços físicos, do pescoço em diante, mas explicou as dificuldades que ele tinha experimentado na terra nas mãos de seus irmãos divinos. Ele reclamou que surpreendentemente, as regras celestes não estavam sendo seguidas na terra. Após ter ouvido o relato revelado por Ọrúnmilá, Deus convenceu-o a permanecer momentaneamente no céu, mas enviou o obstáculo, o mais poderoso de todas as divindades, (Elenini em Yorùbá e Idoboo em Bini) para ir verificar o relatório de Ọrúnmilá. Quando Elenini
chegou a terra, ele observou o espetáculo do restante das divindades no corpo a corpo. Ele não ficou apenas satisfeito que o relato de Ọrúnmilá estava correto, mas também ficou receoso que com a privação predominando na terra, as divindades poderiam acabar guerreando umas contra as outras.

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