sexta-feira, 4 de novembro de 2011

GRANDES PERSONAGENS DO CANDOMBLÉ



Postarei uma matéria veiculada por um jornal que nos conta um pouco sobre esta riquíssima fonte de sabedoria e cultura dentro do nosso culto de òrìsá. Tenho muito orgulho de ter participado por quinze anos desta família, minha mãe, da qual me orgulho muito e seu irmão são filhos deste àse, fizeram parte do primeiro barco de Dª Regina, mo juba esa.

MATÉRIA JORNAL ICAPRA ''CANDOMBLÉ PERDE SUA IYÀ ÀGBÀ DA FAMÍLIA BAMGBOSE OBTICO''.

Por: Prof. J. Benistes



Rodolfo Sawser

Uma das últimas Iyálorisas, pertencente a uma rica geração de matriarcas plenamente identificada com as rígidas normas do Candomblé. Regina Topázio de Souza, mais conhecida como Mãe Regina de Bamgbose, foi sempre consciente de suas origens, sabendo preservar com extrema autoridade, uma vida exemplar a ser seguida pelos seus descendentes e merecedora de estudos por ser parte integrante da história dos Candomblés do Brasil.

Sua biografia se reporta aos ancestrais familiares que viveram há mais de 200 anos no Brasil, sempre dedicados a criar uma vida de trabalho e de devoção total às crenças de seus antepassados. Foram tão competentes que influenciaram as demais raízes do Candomblé. A memória coletiva revela que Ìyá Násò, depois de organizar os primeiros momentos do Candomblé do Engenho Velho, em Salvador, resolveu ir para a África juntamente com Oba Tósí, Marcelina da Silva, por volta de 1837. Após 7 anos de permanência, retorna trazendo alguns africanos, entre eles, Bamgbose de Sàngo, que aqui no Brasil tomou o nome civil de Rodolpho Martins de Andrade, e que seria o patriarca de numerosos descendentes. Numa época escravocrata, assumiu condições de trabalho, como forma de ter e lhe dar condições na organização do culto, conforme desejo de todos.
A sua vinda foi de uma importância fundamental para o grupo que estava sendo formado, tentando dar forma a um modelo de ritual dentro de um padrão de possível aceitação na nova terra. Era um grupo ligado ao culto de Sàngo, como Iya Naso, Rodolpho Obitico, Joaquim Oba Sanya, Marcelina Oba Tosi e Aninha Oba Biyi, entre outros. Isto fez com que a participação deste Orisá nos ritos religiosos se tornasse relevante, com possível razão pela inclusão do Osú, como símbolo da iniciação, o uso do ileke, o obrigatório Àmàlà semanal e a seqüência de cânticos denominada Roda de Sàngo, ponto de partida para a manifestação dos demais Orisas.

Conhecido e citado como Bamgbose (Ajuda-me a carregar o Ose) viria a ser reverenciado como Obitiko, (A família que se reúne), na relação dos ancestrais citados durante o ritual de Ipade, ao lado de Asika, Ajadi, Oduro, Kayode, Adeta Okanlede e demais personagens importantes da ancestralidade afro-brasileira. Os nomes dos homens aqui relacionados possuem muita importância, pois os antigos Babalawos eram considerados como irmãos das mães de santo e, assim, vistos como Tios merecedores do maior respeito e reverencia. Tinham eles entrados franca em todas as comunidades e sempre consultado. Eram raros, e não como nos dias atuais. Rodolpho Bamgbose aqui teve vários filhos, sendo que uma de suas filhas viria a dar sentido à família Bamgbose. Julia Maria de Andrade, falecida em 1925 e conhecida como Vovó Julia de Sàngo Aganjú, cujo nome iniciático era Oba Dára (O bom rei). Casou-se com Eduardo Américo de Souza Gomes, um africano natural de Abeokuta, onde nasceu em 1833, e para lá tendo voltado. Um dos filhos do casal seria personagem importante na linhagem religiosa, Felisberto Nazarenos Sowzer, ou Souza, de Ogunjá, iniciado por um tio, Ewetundé, cujo nome dado foi Oguntosí (Ogun é digno, poderoso). Outro filho foi para a Nigéria e não retornou.

Em uma de suas visitas ao Rio, em 1886, Bamgbose, juntamente com Joaquim Vieira e Aninha, organizou um grupo no Bairro da Saúde, num local de reunião de antigos cativos e libertos, talvez um antigo Zungu, deixando alguns símbolos e pedras ligados a Sàngo, que viria fazer parte da história do futuro Axé Opo Afonjá, do Rio. Em uma viagem de Recife para Salvador, passou mal vindo a falecer em Salvador, em 1908. Felisberto, que ficou conhecido como Benzinho, nasceu em Lagos, na Nigéria, vinda criança para o Brasil, tornou a voltar para a África e mais tarde retornando como Babalawo Ifásesi. Talvez seja que neste transito o seu sobrenome Souza. Era inteligente instruí, pois sabia falar inglês e nagô. Passou a viver com uma senhora africana chamada Damásia com quem teve duas filhas, Tertuliana Sowzer de Jesus, iniciada para Ibualámo Ode Tibuse, e Caetana Américo de Souza, já falecida, e que fez Osun Iyeponda. Fundou o Ilê Axé Lajuomin em 1941, em Salvador. Air Jose de Souza de Osogiyan Iwin Solá (Osoguiyan gerou a honra e prosperidade). Filho carnal de Tertuliana e iniciado por Caetana, sua tia viria a fundar, em Salvador, o Ilè Odo Oje, Casa do Pilão de Prata, em 1964. Caetana tem seu rosto esculpido em bronze com o título de Mãe Preta, na frente do Terreiro.

Em seu segundo casamento, com uma filha de Santo de Vovó Júlia, teve quatro filhos: Crispim de Souza, de Osoosi, Taurino de Souza de Obatalá, Regina Topázio de Souza, nascida em 1914, de Yemonja Oguntè, com o nome iniciático de Omi Olà (As águas da fortuna, da riqueza), e Irene Souza dos Santos, nascida em 1919, de Sàngo, cujo nome dado foi Oba Dipo (O rei ocupa o seu lugar), e que teve como Mãe-Pequena, Aninha Oba Biyi. Regina com 6 anos de idade, e Caetana com 13 anos foram iniciadas num mesmo barco, pelas mãos de Judith de Oya, uma filha de santo de Benzinho. Vindo para o Rio, no início do século passado, Benzinho passou a exercer suas atividades na Rua Marques de Sapucaí, no centro da cidade, e depois, na Rua Navarro, no Catumbi. Aqui viveu na mesma época de Abedé, Alágba, Pequena de Osalá e Aninha que aqui estava tendo ambos feitos o ajejê de Abedé em 1933. Foram os autores dos textos da Fecundação os Odús, um sistema de jogo de búzios, mais prático do que o intrincado sistema de ifá, devidamente adaptado à nossa realidade. Todos os Caminhos para a prática do jogo foram legados os seus filhos, tendo sido, mais tarde, adotado por todos que se utilizavam da prática do jogo por Odú.

Benzinho Bamgbose morreu no Rio, em 1943, com 6 anos de idade, tendo mais tarde seu corpo sido transferido para Salvador no mesmo cemitério onde seu avô foi enterrado na Igreja do Pelourinho. Seus descendentes, Caetana e Irene, abriram casa em Salvador; Regina de Yemonja ficou no Rio e abriu sua casa, em Santa Cruz da Serra, o Ilê Axé Iya Omi, na Baixada Fluminense em Duque de Caxias, em 1957, ficando à frente até o sei falecimento. Os Bamgbose possuem grande expressão e, sobretudo reconhecimento em razão de seus descendentes serem atuantes no meio religioso com a distinção de serem iniciados dentro deste àse poderosíssimo, realizando suas obrigações, de preferência entre si. Sendo a família biológica do Candomblé, de maior número de integrantes, transformaram o importante título Yorubá, em uma denominação marcante representativa de rica linhagem familiar, a Família dos Bamgbose.

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