sábado, 24 de abril de 2010

Continuando a Publicação do meu Livro Coisas do Candonblé...

OUTRO FATO O CORRIDO
Quando tinha meus dezesseis anos passei a estudar um material dos Rosas Cruzes e outros materiais de metafísica que me foi cedido por um arquiteto do Banco onde minha mãe trabalhava e nos conhecemos e ele também era feito de santo e possuía muita cultura e em seu apartamento possuía até muitas mascara africanas que sempre trazia de suas viagens a áfrica e solicitei aquele material para leitura e ele me advertiu que não tentasse praticar os exercícios que ficasse somente na leitura, mas meu espírito aventureiro não se conteve e entrei numa fria, que foi necessário a me recolher por catorze dias, nesta época ela morava na ponte grande num dos imóveis do prefeito De Carlos, lembro que estavam lá para ajudá-la a Ekedi Lucia, o Jô e uma moça que estava acompanhando o ato após os ebós que já tinham sido retirados era um obí[1] com água para esfriar o Orí.
Sei que era o mês de julho e aquele roncó[2]era uma geladeira, após ela me ajeitar às frutas em meu ori fui deitado com uma camiseta branca de manga comprida e enrolado com lençóis como a um recém nascido e mais algumas colchas após dormir um pouco acordei com um som peculiar que pensando um pouco descobri que aquele som era de búzios caindo sobre a mesa que estava a poucos metros de mim, pensei e disse se minha mãe (Oxum) se queria me dizer alguma coisa que me desse em sonho, pois ainda não sabia ler seus búzios, e quase que instantaneamente estava eu adentrando numa mata e seguia o som forte de uma grande cachoeira que quando pus meus pés dentro de suas águas às mesmas subiram e um grande estrondo se fez e as rochas da cachoeira viraram todas otás[3]e vieram mansamente se amontoar aos meus pés, dali recebi uma visão para cada um daqueles que estavam na casa, mas os dois que me lembro com clareza foram o que Oxum deixara para minha mãe de santo, que simbolizava que ela estava se afastando do orixá e se aproximando muito só de feitiços, o outro foi para a moça que estava acompanhando o Jô, neste Oxum me mostrava uma sala que parecia um julgamento onde havia uma menina e que esta menina sorria e abraçava a moça. A moça ficou muito alegre quando lhe contaram sobre o recado que o orixá lhe tinha deixado, pois ela morava no Rio e agora tinha arrumado emprego em S. Paulo e o pai da menina não queria que a menina viesse a morar longe dele, fiquemos sabendo que em juízo tudo sai como ela queria.
A Briga dentro da Casa de Exu
Eu estava vivendo um momento muito difícil em minha vida, e já havia feito tudo que Dª Maria tinha me pedido até um sacudimento na empresa, mas de nada adiantara a ponto que tive que me afastar da sociedade e, nada dava certo até um dia em que fomos fazer um corte para Exu e eu explodi:
“-Não agüento mais, esta acontecendo algo comigo? A senhora tem que me dar uma resposta! - Você tem que respeitar a casa de Exu!”, aonde eu já vinha sentindo uma fadiga imensa a cada ato que não conseguia si quer cantar durante as oferendas, nossa conversa foi feia, após eu ter me recuperado, com isto me afastei durante oito anos não só de minha casa, mas do Candomblé como um todo. Verdadeiramente queria esquecer aquilo que me aconteceu, mas o tempo é um santo remédio e um belo dia estava prestando atenção e sentia uma presença que se desfazia quando adentrava em alguma casa, era como se tivesse duas sombras, e retornando para o almoço já bem tarde algo como as 15h00 tomei uma atitude até estranha passei a mão numa caneca de alumínio e coloquei água e fui à rua saldar Exu, e perguntei - Quem me persegue? Três vezes e ouvi uma resposta Eu! Sem perceber a loucura respondi - Eu quem? –Baralaqueji[4]! Neste momento tremi, pois acabava de perceber que tinha ficado louco, dirigi-me a encruzilhada que ficava a duas casas de distancia e voltei a indagar o que ele queria e novamente ouvi - Voltar para minha casa! Neste momento pensei, como pode o Senhor dos Caminhos estar perdido, comprometi-me em levá-lo a sua casa já. Não conjecturei nem uma suposição sobre o que Eu estava fazendo, afastado há oito anos, Bem, mas estou aqui só para relatar o fato e não pedir que acreditem, O que ocorreu foi que nunca me questionei sobre as orientações dos Orixás sejam em sonhos ou quando Ifá[5] me orienta, fui à casa de minha mãe e relatei o ocorrido ela em primeiro momento achou graça que Eu estivesse falando com Exu, retruquei e lhe respondi que todos nós podemos conversar com os Orixás, o caso agora é que Ele foi que falou comigo, sua feição mudou quando ouviu o relato ocorrido, E assim contou, como ela própria não consegui cuidar dele e eu que o cuidava, ela achou por bem pagar a alguém para isto, é que ela o havia levado para a casa de Seu Zé do Oxossi já há dois anos”, Fomos buscá-lo e isto marcou meu retorno a Família do CANDOMBLÉ, mas não na casa de Omina.
Mais um fato relacionado a minha convivência dentro do Orixá, foi quando Omina Bela estava procurando uma pessoa para fazer um ato no qual ela não queria que eu sacrificasse o animal pelo mesmo foi a desculpa que ela me deu, sendo que nesta época eu não a questionava, fique aguardando curioso o porque não ser eu ora poderia ter muitos motivos, talvez a pouca idade?, Não talvez tivesse que ser do sexo feminino? Mas esperai ai e as pessoas que freqüentavam a casa ou mesmo os filhos da casa? As incógnitas eram muitas e já se passavam alguns dias quando minha mãe carnal Dnª Carmem a recomenda a um rapaz chamado de Edmilson de Oxumaré[6], até já o conhecia de vista, pois, morava próxima a nossa casa, mas o que fez lembrar se dele foi que ele possuía uma irmã daquelas que não dava para esquecer não sei onde Jorge amado se inspirou para criar a sua personagem Gabriela, mas sem dúvida que tivesse posto os olhos na Irma do Edmilson eu saberia quem foi sua musa inspiradora.
Bem ela me recomendou que passasse a casa do rapaz e lhe avisasse que ela gostaria de lhe pedir um favor, bem avisado o rapaz lhe aguardou, e sei que passados alguns dias, numa tarde de quinta feira ele pediu que eu estivesse em sua casa para o ato que iria ocorrer, lembro-me que estávamos em quatro quando o rapaz chegou só, minha Irma já havia preparado alguns pratos que seriam arriados aos pés d’Oxum eu havia já feito osse (limpeza consiste em preparo num pequeno alquidar prato de barro algumas folhas com cachaça ou gin) Bará e mesmo preparado os animais (isto no candomblé em que fui criado significa verificar que os animais não apresentam defeitos e que estão de acordo com aquém vão ser oferecidos, se estão bem acomodados e sendo assim devemos lavar: A cabeça, os pés, debaixo das suas asas, como também o seu curuchinho (bunda/rabo), após isto fui amolar a faca de Exu, esta posta ao seu lado fui buscar o seu Padê (farofa) que são servidas em alquidas sendo uma de Farinha de mandioca com cachaça, outra com farinha de mandioca com azeite de dendê, e a outra com mel, além destes três líquidos ao lado uma caneca com água, um pires com um punhado de sal, além de usar obí ela possui uma preferência por lobassa (cebola) bem arendondada que deveria ser descascada sem nenhum machucado após o ato quando para exu no solo.
O rapaz chegou e se pôs a disposição de omina Bela, nós também só aguardava-mos a suas ordem, pois até a água quente para depenar os animais já estava no fogo, mas nós já conhecíamos e sabíamos que antes do termino da novela das oito nada iria começar, o coitado fumou e conversou até que a novela acabou e ela o chamou para o corte, foi neste momento que tive mais uma de minha experiência, pois assim que começamos a saudar Exu ele pegou a obé (faca) e apontou para que eu lhe trouxesse o primeiro franco e sem nenhum de nossos rituais ele desferiu um golpe e decepou a cabeça do frango, me senti muito incomodado com aquilo como se um arrepio percorreu meu corpo, Omina Bela pelo jeito também, tanto que interrompeu e lhe deu as orientações que deveria tomar, pois este ato que ele praticara era comum em sua (Nação Angola) e não da nossa Ketu, ele ficou bastante chateado, mas terminou os atos de acordo com a orientação que recebera, mas não quis receber o dinheiro que tinha acordado pela sua mão. Neste dia foi que percebi que, as outras Nações que já ouvira ela comentar do candomblé, não era só o nome que era diferente e que eu teria muito que aprender.
[1] Semente/Nós de cola/fruto sagrado do culto
[2] Quarto de repouso para as obrigações
[3] Seixos que representam em assentamento orixás
[4] O nome do exu da casa
[5] Nome do oráculo/Jogo de Búzios
[6] Orixá importado da Nação jeje/Dan/Beleza e riqueza.

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