sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mais um capitulo de meu Livro "Coisas do Camdomblé"

Mais uma das tantas experiências já Vividas.
Foi em Março de 1986, numa sexta-feira lembro com clareza, pois estava todo de branco por ser dia de Oxalá[1]. Encontrava-me no ponto de ônibus, enfrente à Praça dos Estudantes que fica no centro do município de Guarulhos, a onde moro atualmente, mas o fato ocorreu quando eu e minha família estávamos morando no Bairro do Belém em S. Paulo-SP. Estava saindo da casa de minha namorada próximo ás 11:00hs e como todo homem apaixonado sempre pede um último beijo e perde a hora e depois sai correndo e foi assim que acabei sendo confundido com alguém que havia estado em uma briga e machucado esta pessoa.
Assim acabei me encontrando numa em rascada terrível, imaginem a cena que não sai de minha cabeça, ofegante cheguei ao ponto e fui abordado por dois elementos que cheiravam á álcool e me indagavam porque eu tinha feito aquilo, sem entender o que era, fui me preparando para uma briga, quando observei que as demais pessoas se afastavam do ponto claro elas perceberam que atravessavam a rua um bando de maloqueiros que até então se encontravam no bar conhecido como um ponto de venda de drogas, ao perceber aquela movimentação, refiz o meu pensamento quanto a sair dando bordoada, afinal às coisas tinham mudado de dois para oito e os tamanhos agora tinham configurações maiores, a conversa permanecia a mesma queriam me surrar, pois acreditavam que eu era o elemento que havia machucado seu amigo que pelo que entendi se encontrava muito bêbado.
Foi quando me dei conta que entre eles faltava alguém que iria decidir o meu destino, e porque isto não acontecia, eram eles em maior numero poderiam me surrar sem que eu pudesse oferecer qualquer perigo, ora era obvio eles pertenciam a uma gangue, e tinham que aguardar a chegada de seu líder, Enquanto me mantinha a espera deste, algo de muito estranho começava acontecer, um barulho aumentava lentamente como se estivesse aproximando, percebi que este era um toque de abertura do Xirê[2] e a toada que agora se fazia clara e me tornava em alguém com muita confiança era: Exu 3] marabo é mojuba, É Bara coché, Exu marabo é Bara lonan..., Durante esta cantiga percebi que somente eu estava á ouvindo, e me parecia que eu não estava mais naquele lugar, suas vozes tinham sumido como que eu ficara surdo, mas não estava para aquela toada, durante ela ouvi a seguinte ordem: “Não faça nada só olhe dentro dos olhos dele” esta foi repedida e quando acabou, voltei para aquela situação e eles falavam e eu já ouvia bem clara que “Julio” estava chegando um rapaz negro que apresentava possuir uns 25 anos, magro e com seu 1.80 m ele se dirigia seguido de mais dois moleques como em câmera lenta, parecia saber o que faria e eu o já fitava seus olhos grandes e negros que praticamente beijaram minha face, seu perfume carregado de desodorante barato e doce se misturavam com o cheiro de maconha e álcool, fazendo uma mistura inesquecível, mas em poucos segundos a situação desfez se como a uma nevoa, ele dera as suas costas e dava de ombros dizendo assim repetidas vezes” deixem o cara, não é o cara” e voltou-se para o bar e consigo levou todos seus comparsas que sem entender me olhavam.
Pude perceber que as pessoas não tinham ainda ido embora, pois voltavam ao ponto, mas com suas caras de espanto, com algo inacreditável, só esperavam uma pancadaria e no final não tinha acontecido nada, e para mim aqueles poucos minutos, foram uma eternidade, o ônibus passou em seguida e eu ainda me sentia com adrenalina de um atleta, e só baixou quando cheguei em casa e resolvi tomar um banho frio, e percebi quanto alguém gosta de mim em um lugar que não conheço.
Outro fato estranho: O HENRICÃO DA CARMINHA.
Este outro fato, que comigo ocorreu é bem interessante e possuidor de outras três pessoas, Azulão, o Testa e o Branquinho, eram os apelidos de meus mais chegados amigos da juventude esta nossa amizade começou na sétima série quando fui transferido do primeiro grau da Escola Prof. Plínio Paulo Braga, para atual Prof.ª Maria Angélica Soave, na verdade nós já nos conhecíamos antes de eu mudar de escola, por conta de morarmos no mesmo bairro, mas amizade só se tornou firme quando mudei para a mesma Escola destes meus amigos.
Assim esta amizade já contava com mais de dez anos quando este fato que irei relatar ocorreu: Precisávamos de um carro para nossa saída de sábado á noite, e o jeito foi o Álvaro pedir o fusca novinho do seu patrão o dono da farmácia, o Álvaro dispunha da confiança do patrão e ele nos emprestou o carro, tudo combinado na casa do Testa (Ronaldo), era lá que Dª Geralda melhor nos recebia, não nada de mais é que ela só possuía filhos homens (Roberto, Ronaldo e Adauto) então a bagunça era mais tolerada.
Havíamos combinado após a novela das oito, e iríamos ao Bar Tia Redonda para azar alguém, uma vez que nenhum de nós estava namorando,l á ficamos até ás 2 horas resolvemos dar um role pela cidade e nada de bom nos aconteceu, achei que tínhamos bebido demais e que era tarde para gastar em outro lugar era muito melhor tentar no domingo lá na casa do Som, todos concordaram e assim feito tomamos o caminho de casa, quando percebemos que o cigarro estava acabando, e a esta hora não vamos voltar? Disse Eu, interrompeu o Álvaro – O Bar do Pinhal! , este ficava em nosso caminho, Paramos na frente e o movimento era assustador, estava com gente até do lado de fora, aquele bar não possui as melhores referências, mas o vício é maior recolhi o dinheiro do Ministre do Azulão, o Free do Álvaro e Hollywood do Testa e esperava ter naquela pocilga o Carlton que eu fumava, neste momento o Álvaro sai do carro e diz – Deixa comigo? Preciso urinar! Bem lhe dei os deis cruzeiros e se foi, de repente o azulão começa a discutir com o testa que não queria dar lhe um cigarro, falei – Ei o Álvaro esta demorando não? E sai do Carro, recebi uma enorme surpresa quando um negro gordo que estava à porta do bar como se fosse um segurança grita em tom de alegria “Henricão! (Henricão da Carminha!).
Algo realmente tinha acontecido, pois neste momento deu para perceber que o Álvaro esta com um problema, ele foi trazido para fora sem os cigarros e num lance que nunca entendi tomei uma atitude inesperada e disse em tom de autoridade - Cadê os caretas? os elementos que estavam com ele se dirigiram para mim e em tom de desculpa - Henricão! eu só queria que o mano pagasse uma birita para nós? Retruquei de imediato - Vamos logo! Quanto é? Respondeu um deles - o troco dá! Interrompi novamente já colocando a mão no peito do Gordo nós fizemos uma fita errada e os homens tão atrás da gente! E ele Dizia algo assim - Cara volta para Boca! E eu novamente já olhando o Álvaro que entrava no carro, - Agora eu estou careta Tchau!
Dentro do carro o Álvaro se recuperava do susto, Azulão e Testa tinham ficados brancos e eu aos velos comecei a dar risadas, esta situação só foi compartilha por meus amigos quanto já estávamos na frente da casa do Álvaro, onde me interrogavam sobre esta minha desempenho de ator, a bagunça esta tão boa que seu pai nos expulsou e mandou que ele entrasse. Nunca nos esquecemos deste fato, pois ser parecido com alguém é possível até que seja confundido por varias pessoas, mas neste caso ser parecido, possuir o mesmo nome, e ter o nome da mãe já é para virar um causo.
Se desta vez os orixás estavam comigo e eu acredito que sim, talvez não os tenha percebido devido ao álcool, pois quando jovem sempre fui um duro na queda, pois poucas vezes me vi vencido pela cachaça, mas graças a nossas proteções estamos vivos para contar esta emoção aos nossos filhos.
[1] O senhor do pano branco/O pai dos orixás.
[2] Festa onde se toca para os orixás.
[3] O senhor dos caminhos/O orixá que tudo liga.

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