quinta-feira, 22 de abril de 2010

Continuando a Pulbicação de meu Livro...

O INICIO DE TUDO
Todos os fatos relatados aqui são verdadeiros, como os vividos por mim nestes anos de convivência com a espiritualidade, principalmente dentro do Candomblé, podem afirmar que fica difícil apontar qual foi o mais incrível, mas começo relatando como foi a minha entrada nesta seita.
Acabara de chegar de mais uma internação hospitalar, e meus pais resolveram encostar minha cama na janela já que eu não podia brincar, devido à grande fraqueza que a doença me causara (insuficiência cardíaca), de repente percebi que havia uma pessoa que me observava muito estranhamente, era uma senhora morena muito bem vestida com grandes argolas em suas orelhas, com muitas pulseiras, eu viria a me encontrar com esta senhora ainda naquela semana, ela procurou à vizinha Dnª Aparecida para lhe consultar sobre a religião de meus pais, descobriu que meu pai era um devoto de Nossa Senhora Aparecida, mas pouco freqüentador de igrejas, minha mãe já transitava entre a missa católica e as reuniões de mesa branca (kardecismo) e já visitara um terreiro de Umbanda levada por minha Tia Silvia, próximo ao Cemitério do Chora Menino conhecido como terreiro do Tenente Urbano.
Com estas informações ela procurou minha mãe e lhe relatou que o que eu tinha não era só um problema de saúde, e que se meus pais autorizassem, ela iria cuidar de meu problema espiritual, ela bem que tentou explicar ao meu pai que o problema era um encosto de um egum[1], mas ele consentiu após ela lhe explicar que o que iria acontecer era sete dias de reza em sua casa que era nossa vizinha, solicitou que para isto seria necessário: a compra de uma roupa branca e dois lençóis brancos e virgens com uma fronha.
Estes dias começaram com minha mãe me levando no colo apesar de meus nove anos a doença havia me debilitado a ponto de não conseguir andar aqueles cinqüenta metros que separavam a minha cama da esteira em que eu iria deitar, tomei um enorme susto quando adentrei naquela casa, pois defronte a porta havia um vaso com uma cabeça com pequenos chifres e um tridente de ferro cheio de sangue e coberto de penas aliais, o nome da senhora era Dª Maria e seu oruncó[2] (Omin Nabela), ela me conduziu a esteira que possuía um travesseiro com a fronha branca e o lençol sobre uma esteira, colocou em meu pescoço um colar feito de palha da costa chamado mocan[3] e me ensinou a dar o Iká[4], pois a esteira estava de fronte ao iba[5] de Oxum que ao seu lado estava sendo assentado o seu êre[6], sem que entendesse o que ocorria, ela começou a rezar em ioruba e eu comecei a sonhar e sentir meu corpo como se houvesse sido ligado em uma tomada 220 w, mas o sonho era tranqüilo, eu me aproximava de um belo lago e ficava em sua margem brincando como a um bebe muito feliz.
Quando acordei deste sonho encontrava-me todo molhado como que eu realmente estivesse adentrado naquele lago, mas era suor ela me cobriu não só com o lençol, mas com uma colcha branca que fiquei sabendo depois por minha mãe esta colcha pertencia ao enxoval da obrigação de santo de Dª Maria e que ela havia chorado quando a colocou sobre mim, me deu de beber água da quartinha e me disse que prestasse atenção em meus sonhos foi quando lhe contei o que tinha acabado de sonhar e ela riu, minha mãe me abraçou e fomos embora.
No dia seguinte, já me sentia bem melhor, mas minha mãe ainda me levou em seu colo, quando chegamos de pronta Dª Maria perguntou - Você sonhou? –Sim! - Lembra? –Sim! Contei o que havia sonhado: “Eu estava na via cruzes com uma sopeira e dentro dela havia como três pedras que à medida que Jesus se aproximava elas brilhavam, mas de repente uma delas se quebrou como um ovo e sua gema fora se transformando em sangue até cobrir as pedras”, neste dia ela não só colocou o mocan, mas vários outros fios de contas que pertenciam ao seu quele[7]·, em nosso terceiro dia ela manda avisar ao meu pai que no sábado eu irei subir o Morro do Buraco Quente que ficava de fronte as nossas casas e é uma subida em curva de aproximadamente um kilometro, e que apartir de amanhã eu poderia comer o que eu quisesse, já tinha a me acostumado a comer raspa de maça e arroz com mel.
O sábado chegou, e eu já brincava na rua com meus irmãos, quando avistei meu pai, lembrei que já devia ter tomado banho, corri e fui me preparar para me encontrar com ominabela, quando chamei , ela perguntou - Seu pai já chegou? Respondi que sim e ela já trazia nas mãos um coco seco que ela já tinha me avisado que eu iria lançá-lo bem alto, e ele iria explodir, neste dia vi meu pai chorar quando nos abraçamos, após meu retorno.
Foi assim que comecei minha nova vida, agora com um propósito de descobrir como uma pessoa podia olhar para alguém e descobrir que esta pessoa possuía uma doença que não era do corpo e sim da alma, minha vontade de conhecer tudo sobre o que era aquilo, que chegou a criar um ciúme em minha mãe, pois onde Dª Maria estava lá esta eu, aprendendo a tomar a benção até de cachorro, e bater a cabeça a qualquer um que fosse desta crença agora chamada de candomblé, e ela me ensinava tudo em uma língua africana chamada de ioruba[8].
Outro fato muito estranho foi que ela já havia me avisado que um dia eu iria fazer uma cirurgia, mas antes que fosse marcada eu deveria pedir um tipo de autorização aos Orixás, pois o aço não poderia ser utilizado para cortar qualquer parte de meu corpo ainda que fosse com minha autorização. Aquilo parecia muito estranho e até mesmo um pouco fantasioso, mas na época eu não liguei e deixei o tempo passar e vivia a minha juventude a todo vapor e evitando até mesmo de ir à casa de ominabela, pois lá se estive ocorrendo qualquer atividade seja com orixá ou um corte para Exu ela dava um jeito de me colocar de preceito[9].
Os anos passaram e eu já acumulava alguns desentendimentos com ominabela, principalmente quando eu resolvi que tinha conhecido a pessoa certa para encerrar a minha carreira de solteiro, minha noiva possuía certo temor quanto, a ominabela, mas acreditava que eu deveria cuidar da minha saúde e sendo assim prometi a ela que antes de nos casar eu iria fazer a cirurgia, só que ela não sabia da advertência espiritual, assim procurei uma maneira de efetuar a cirurgia com o seguinte pensamento se verdadeiramente tenho um orixá ele ira me proteger.
A operação foi marcada para o dia 13 de junho de 1996, neste dia solicitei que não gostaria de ver ninguém, mas a minha mulher desobedeceu a minha ordem e eu lhe contei chorando como foi o sonho que tive na noite anterior, já estava em jejum, após o almoço e quando a noite chegou me antecipei e fui me depilando todo com alguns aparelhos descartáveis tanto que quando o enfermeiro chegou já estava lendo o novo testamento em minha Bíblia e já se ia próximo a meia noite e ele terminou as minhas costas e fui me deitar sem poder tomar um gole d’água e assim venho o sono e com ele o sonho que foi o seguinte: “Estava caminhando pela av. Monteiro Lobato no centro de Guarulhos quando de repente havia uma multidão se se acotovelando para ver um bloco de afoxé[10]·, eu subi num desnível de uma loja que na época era de retalhos, e dali pude observar que eram como iaôs[11] negros numa saída quando já adochados [12] e catulados[13] com tinta branca enquanto eu os observava comecei sentir meu corpo formigar e percebi me vestido com uma roupa de ração branca e com um quipa[14]e ao meu lado estava o Chico filho da Celina muito amiga da minha mãe, que neste momento começava a se transformar numa mulher toda vestida de dourado tão brilhante que meu corpo vibrava e eu disse ó minha mãe eu não viro de santo e me ajoelhei aos seus pés quando ouvi - você pode não me considerar importante? - mas saiba que você é para mim! E, após isto um silêncio percebendo isto me levantou e só deu para ver o grupo de negros entrando na capela do Rosário, e avenida limpa para eu seguir em frente”.
Eu chorava muito, e minha esposa pensava que era medo da operação, mas não eu estava convicto que não possuía a humildade necessária para compreender os desígnios do Orixá, eu não fui a ele, mas ele veio a mim, e deixou claro nesta passagem quando após a operação eu não voltei com os dois primeiro choques para o resuscitamento.
[1] Espírito de um morto/Antepassado ou não
[2] Novo nome/Ganho após obrigação
[3] Colar feito de palha d’costa trançado
[4] Maneira masculina de se prostar diante de um mais velho.
[5] Local onde se assenta um Orixá/Vaso de cerâmica/Cabaça etc.
[6] Entidade que representa as crianças/Ibejis
[7] Conjunto de fios de contas utilizados quando da obrigação
[8] Não só a lingua, mas também um conjunto de coisas que ultrapassam até fronteiras geográficas.
[9] É uma serie de proibições que variam dependendo do ato praticado dentro dos ritos.
[10] Bloco carnavalesco próprio da Bahia.
[11] Recém iniciado no candomblé.
[12] Conjunto de folhas e outras misturas que são colocados no centro da cabeça do iaô numa de suas saídas no barracão.
[13] Pintado/Iaô quando de sua feitura.
[14] Tipo de gorro usado por pessoas do sexo masculino membro da seita.

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