sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mais uma Experiência relatada no "Livro Coisas do Camdomblé"

Algumas vivências com Ominabela
Uma que presencie em sua casa foi uma grande discução entre Camarão e Daibo os dois só faltaram a se atracar, mas devido à interferência de omina não aconteceu, mas as ameaças só partiam de um lado dizia assim Camarão –Seu bosta quem você pensa que é para me afrontar? Resposta de Daibo -ele só dormiu lá em casa por falta de condução, e camarão –Sua bicha descarada quanto que estou lhe ajudando para receber esta traição! A omina tentava colocar um para fora e este era Daibo que parecia mais calmo, e assim se foi embora, mas camarão não se conformava com algo que em meus nove anos ainda não compreendia que se tratava de uma cena de ciúmes entre os dois homossexuais, e ouvi quando Camarão falou a omina sei que é seu amigo porque meu não é mais e te juro que a bicha vai morrer cagando se foi por ali que ele teve prazer é por ai que ele vai sofrer, omina tentava deçuadilo, mas imagine um negrão feio e bravo, e quando digo negro quero dizer aqueles azuis omina parecia uma criança perto dele eu acredito que batia em sua cintura ele espumava pela boca, quando proferiu a seguinte frase para você que pensa que estou brincando avise ele do que prometi, pois só vou voltar aqui depois que souber que ele Kufou[1], não lembro quanto tempo este fato demorou a acontecer, mas foi pouco tempo depois de meu aniversário de dez anos em janeiro de 1970, os vizinhos chamaram a policia, pois ele morava num cortiço ali no buraco quente e a izala [2] estava muito forte, dizem que quando a policia estourou o cômodo e cozinha ele estava morto há dias sentado na privada.
Assim foi que descobri que aquelas pessoas possuíam poderes ou conhecimento para nos ajudar como foi o meu caso ou manipular esses conhecimentos para praticarem o mal, como acabara de acontecer com o coitado do Daibo, pelo menos ao modo de ver de uma criança, quando comentei com omina ela me explicou que estes conhecimentos não são para ser usados assim, mas que quando possuímos e difícil mum momento de irá segurar, me contou que havia um rapaz que sempre subia no muro de sua casa para mexer com pai Gerson e este um dia quando ela o seguiu para a roça largou a trouxa que trazia a cabeça e dirigiu-se ao rapazola que hoje ele estava de bom humor, mas que outro dia se ele mexe-se com ele e o rapaz vise à trouxa cair o que quebrasse na trouxa assim também quebraria em seu corpo, aflito perguntei - Mãe aconteceu alguma coisa com o rapaz? –só quebrou uma perna e os dois braços! -E por quê? Disto indaguei –É que em nossa nação o poder esta na palavra proferida!
Houve o caso da vizinha que como omina vivia sozinha e que de vez enquanto recebia a visita de certo homem que numa destas visitas não a encontrou em casa e parou na casa de omina para tomar um café e o tempo se passou e a vizinha chegou e não gostou do que viu, dali passou a jogar gracinhas para omina não desconfiando que estivesse mexendo com a pessoa errada, e numa desta ela cruzou com uma ferrenha escudeira de omina a minha própria mãe que não se conteve e persegui a vizinha que acabou se enrolando numa colcha de pique que se encontrava em seu próprio varal foi o suficiente para que ela levasse uma bela surra, o que diga se de passagem não foi o suficiente, mas ouvi omina dizer que iria preparar uma zorra[3] para que ela se mudasse coisa que não demorou, mas o interessante foi que ela anunciou aos quatro ventos que na quarta-feira depois do almoço iria embora daquele inferno.
Parecia que iria acontecer algo, pois minha mãe tinha feito uma bela jarra de K’suco para nós que brincávamos a volta do caminhão e ela e omina que não tinha ido trabalhar tomavam uma cerveja ali no portão, daqui a pouco o caminha saiu e nos íamos saimos correndo a sua volta quando um grito unisso das duas nos impediu de continuar, mas deu para nós observar que na curva o caminhão havia tombado e os móveis haviam se quebrado ao cair do caminhão, minha mãe - Disse agora podem ir ajudar! Corremos lá e ela só falava que queria ir ao hospital para ver se estava tudo bem com o bebe, logo voltei para relatar o fato as duas, e ouvi seus comentários - Carmem a sorte dela foi que a bichinha esta grávida - Mas a senhora não tinha feito nada para matá-la, -Claro que não era só para que a vadia perdesse seus móveis! Disse minha mãe –Ainda que hoje seja dia de papai (Xangô o Deus da justiça) e omima respondeu –Ela ou eu tivemos muita sorte?.
Neste mesmo local onde Daibo morava havia um terreiro de Umbanda que a moça sim moça porque deveria ter uns 23 anos, linda morena, que viera acompanhada de sua mãe para um jogo de búzios e depois retornou sozinha para uma consulta com a formosa que era o erê de omina, o resultado disto e que passamos a freqüentar o Centro e a cada dia que íamos lá omina preparava alguma coisa até que chegou o dia da obrigação que foi muito linda, o santo da moça era um Oxóssi e sua saída no barracão cheio foi muito comemorada, o fato relevante aqui nesta história ocorreu quando um dia à tarde quando entramos no barracão a moça estava incorporada de êre e veio correndo se jogou aos pés de omina dizendo algo desconexo e o que pude observar seu quelê estava quebrado e todo esparramado pelo salão, enquanto me colocava atrás dela pude observar que ela dizia algumas palavras e tocava a cabeça e as curas da Iaô, neste instante adentravam algumas pessoas pelos fundos e presenciou uma cena bizarra a moça se rolava pelo chão como a um cão louco e após as pessoas pedirem que omina fizesse algo ela respondeu que Oxóssi estava batendo nela e que o orixá é soberano, nisto chamaram um homem já de meia idade que depois fiquei sabendo ser amante da jovem que tentou abraçá-la o que foi em vão ele caiu e ela agora de pé esfregava o seu lindo rosto contra a parede de cimento grosso já fazendo arranhões e o sangue descia manchando suas roupas, a mãe da moça implorou a omina que aquilo cessase, mas a resposta foi – quando parar ela pode me procurar! –Vamos Henrique que aqui não podemos fazer nada!.
Passados alguns dias lá estava à moça que não quis descer do carro, alegando sua mãe e irmã que ela não estava bem e que não era mais para omina subir no terreiro que todos inclusive o Agenor que era policial militar não tinha gostado daquilo que viu, respondeu omina –Eu só dou obrigação de quem tem orixá! E a mãe da jovem perguntou –para fazer o que fizeram no rosto de minha filha? Omina –A senhora não perguntou o que sua filha fez para que isto acontecesse! A velha calou e a irmã parecia querer falar algo, mas se conteve assim omina -disse sua filha vira aqui! e vai terminar seu preceito aqui nesta casa, já que ela disse que eu não posso ir até lá, mas veremos! Dois dias depois vi correndo pela rua como a uma criança fujona a moça com o rosto ainda marcado e entrou no corredor da casa de omina, seus familiares chegaram depois e trouxeram os apetrechos necessários para acomodar a jovem, mas sua saída de santo foi em seu barracão com omina a frente de um Oxossi digno de ser o Rei de Keto.
Outra passagem marcante com omina, e seus filhos foram quando saiu uma conversa na casa de seu Gerson o pai de santo de omina, uma história que tinha chegado aos ouvidos dele de que omina procurava outro pai de santo para dar sua obrigação de cinco anos, pois segundo a história ela tinha descoberto de que ele era feito no chamba e não no keto, nesta época este chamba era para ela uma espécie de umbanda e o que marcava esta situação era que este chamba só usava três fios de conta (Um branco, outro vermelho e o preto) Fugindo totalmente da pureza que até então ela ouvia do pai de santo que lhe tinha enganado a mandado ela fazer um ato a beira de um olho d’água que ela fez de bom coração, mas que na ora percebeu que estava era despachando sua cabocla Jurema isto lhe tinha magoado muito, mas quanto ao resto ela veio a descobrir que Quitéria era a responsável pela fofoca e esta jurava que não, mas omina chamara a estrelinha que era o erê de Nanã o orixá de Quitéria, e ela havia confirmado que seu cavalo gostava de fazer conversa com o pai velho que lhe ensinava muitas coisas.
Omina disse a minha mãe que iria cortar a indaca[4] de Quitéria para que nunca mais ela mentisse, o fato que em três meses depois de sua obrigação de um ano ela veio a falecer, sendo que lembro que ela já não conseguia se locomover pois suas pernas não se firmavam e antes ela sempre estava conosco na casa de omina, após este fato os outros filhos de santo abandonaram as suas visitas constantes principalmente as sextas-feiras dia de Oxalá ou aos sábados dia de Oxum, e sua casa passou a ser muito mais freqüentada por clientes para falar com formosa ou com Seu Boiadeiro e amigos da família do santo ou da policia os alibans[5], e já nesta época alguns políticos principalmente de Guarulhos.
Omina era avessa a aparecer em roças de pessoas que não fossem maiores que ela no santo, e principalmente em dias de Xirê[6], mas ela estava devendo a muitos convites recusados a Jô um filho de santo de Xeumã, cuja seu ori[7] Omolu[8] a quem ela possuía um grande xodó por este orixá, é seu junto[9], ela aceito ir ao um toque na roça de Xeumã que ficava em Pirituba-SP, e claro comigo a tira colo, quando chegamos o toque ainda iria começar e me adiantava para cumprimentar os mais velhos, quando ela me agarrou e me disse - Fiquemos por aqui! Respondi - Não podemos fazer isto a senhora é uma Yalorixá! Ela me enrolou, e que depois que começasse o toque ela iria até eles, e logo apontou para Genoveva - Quem é? Já emendando outra pergunta - O senhor pai de santo sabe? Respondi - Sim! É o grande esteio desta Roça, possui uma Iansã linda.
O toque começou e nós estávamos na segunda fila, até que chegou a cantiga para Iansã e só se viu Geno se debatendo e arrancando seu lenço da cabeça seus brincos, pois não tinha se afastado da porta da cozinha como que não se fosse haver um toque na casa, as ekedis a levaram para dentro e daqui a pouco esta lindamente vestida a rainha dos eguns, lá se foi cumprimentar os atabaques e deles a porta e ai aconteceu algo ela empacou diante de nós e a ekedi que a conduzia não conseguia demove La daquele lugar, interrompi aquela situação perguntando a Omina - A senhora não a tinha reconhecido, e ela veio dizer que também a reconhece! Quando Omina se levantou para abraça-lá pude ver a cara do Pai de santo saindo do salão e mandando que se prepare um lugar apropriado àquela senhora, foi uma grande vergonha que passamos, mas também uma grande lição, pois eu sei que existem varias qualidades de Orixás e mais importante é de que forma eles nascem no ori da iaô.
[1] Que a pessoa morreu
[2] Mau cheiro
[3] Feitiço/Pó
[4] Boca grande/fofoca
[5] Homens que utilizam farda/que possuem poder dado pelos homens.
[6] Festas no Candomblé/Toques/Saídas
[7] Cabeça
[8] Orixá da peste/Cura
[9] O segundo santo

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